ASSINE
search button

Engenheiro da UFRJ culpa a população por não preservar margens dos rios 

Paulo Rosman lembra que a ocupação indevida das margens dos rios causou a tragédia

Compartilhar

A tragédia causada pela chuva, que atingiu diversos municípios do estado do Rio de Janeiro nesta quinta-feira (3) – mas, de forma mais intensa, o distrito de Xerém, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense -, é fruto da incompetência da sociedade brasileira em se organizar.

Essa é a opinião do professor do Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Escola Politécnica da UFRJ, o engenheiro Paulo César Rosman. Para ele, além do grande volume de chuva que desabou sobre o Rio em um curto período de tempo (212 milímetros), a ocupação indevida das planícies de alagamento, ou seja, as margens dos rios, é o fator que causou a tragédia.

“Quando se urbaniza essas áreas os rios ficam canalizados e a água da chuva não tem para onde correr. Não precisa ser nenhum especialista para saber que não tem como impedir que planície de inundação seja alagada. Ela sempre será. A única medida é tirar essas pessoas dessas regiões de risco”, opina o engenheiro, lembrando que a questão do lixo, que segundo o prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardozo, contribuiu para a tragédia, é "secundária".

Rosman lembra que, nessas horas de enchentes, é muito comum e fácil culpar os governos em gestão. Para ele, no entanto, criticar os órgãos públicos “não adianta nada”.

“Falta capacidade de planejamento. Essas pessoas ocupam áreas impróprias e depois culpam só os governos, mas esquecem que quem os colocou no poder fomos nós, os populares. O governo só retrata o nível de competência, ou não, de uma sociedade”, critica o engenheiro.

Segundo Rosman, é necessário um grande plano de habitação, com reestruturação do solo. No entanto, ele afirma que a tarefa não é fácil: “nenhuma gestão política tem dinheiro e tempo para resolver a questão em quatro anos de mandato. Além disso, o custo político é enorme, pois tirar essas pessoas dessas áreas é uma medida impopular. O cara que fizer isso, nunca mais se reelege”, opina o professor da UFRJ.

O engenheiro lembra um dos termos do novo Código Florestal, que recebeu algumas críticas, para exemplificar como a população tem sua parcela de culpa.

“A questão da proteção da mata ciliar foi muito criticada, pois diziam se tratar de uma proteção ambiental do rio e um impedimento do desenvolvimento econômico da região, mas esquecem que também é uma defesa da propriedade, que poderia ser inundada a qualquer grande chuva que caísse”, ressalta Rosman.

Sem tecnologia de prevenção

Ainda segundo o engenheiro, atualmente não existe uma previsão meteorológica que consiga dar, com precisão, o exato ponto em que a tempestade vai atingir.

“Três, quatro, cinco quilômetros parece pouco, mas nesses tipos de caso fazem uma grande diferença, pois não há como prevenir antes da chuva chegar”, destaca Rosman.

*Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil