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UOP no Porto Maravilha entra em operação e divide opiniões

Apesar das melhorias, moradores e comerciantes se sentem desrespeitados

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A área do Porto Maravilha, no Centro do Rio, recebeu nesta quarta-feira (26) uma Unidade de Ordem Pública(UOP). A atuação da Secretaria de Ordem Pública chamou a atenção de comerciantes, camelôs e moradores de áreas residenciais, que reclamaram não terem sido avisados da presença da secretaria.

"O que eles chamam de revitalização é o seguinte: eles querem explorar essa área daqui para o morador de classe média alta, e vão acabar expulsando a gente daqui", disse Sílvio Ronaldo, 40 anos, morador de uma vila na Zona Portuária.

André Dias, de 33 anos, reconhece que a área deve ser valorizada, mas reclamou do tratamento dado aos moradores com comércio de rua, comparando com uma situação que deveria ter sido resolvida em outubro: propaganda eleitoral. "Maltratam o morador que tem um comércio aqui na rua, mas demoraram dois meses para tirar a propaganda eleitoral do prefeito. Será que ele vai ser notificado?", questionou.

Alheio às reclamações, o secretário de Ordem Pública, Alex Costa, ressaltou as melhoras que serão feitas na região:

"Os principais problemas são a população de rua, a questão do barulho nessa área e a ocupação irregular das calçadas, com carros de passeio ou carros de comércio. Com o dia-a-dia, vamos aperfeiçoando nossa atuação", disse o secretário, que garantiu ainda que a atuação dos 267 guardas municipais será ininterrupta: 24 horas por dia, sete dias por semana.

Apreensões para melhorias

Sob forte calor, agentes da Guarda Municipal e da Seop não hesitaram em apreender cerca de 15 carros estacionados na Rua Sacadura Cabral. Duas carrocinhas de vendas de comida também foram apreendidas, mostrando a vontade da secretaria de moralizar o comércio na área.

"Estamos colaborando com essas questões. Haverá uma revigoração e revitalização muito importantes para essa área. É uma mudança de cultura, para todos nós, moradores e órgãos que estão atuando nesta área",explicou Costa.

Miguel Henrique Delembert, de 53 anos, trabalha em um prédio na área do Porto Maravilha há pelo menos 30 anos. Curiosamente, ele também mora nas redondezas, na Rua Sacadura Cabral, há dez anos. Ele se diz satisfeito com o empreendimento, mas foi pessoalmente pleitear algumas melhorias ao secretário:

"Ainda sofremos muito à noite. Há guardas municipais até demais durante o dia, mas à noite não há nenhum. As boates aqui perto causam uma grande movimentação de carros, que estacionam em cima da calçada e em frente aos nossos prédios, impedindo a gente de sair em uma emergência. Isso tem que ser moralizado", contou Miguel, que ouve comentários bem diferentes do que ouvia quando foi morar na área portuária:

"Me chamavam de louco. Hoje, muitos querem morar aqui e encontram dificuldade para encontrar imóveis", satisfaz-se Miguel, que calcula em até cinco vezes a valorização no local.

Tensão e críticas à política

Os críticos do Porto Maravilha foram encontrados rapidamente. Sílvio Ronaldo, morador da Zona Portuária há 40 anos, destaca que os pobres serão retirados do local pela valorização da área do Porto Maravilha:

"A melhoria será para quem chegar com o dinheiro. Encaramos esse bairro esquecido por anos e anos, e agora na melhor parte vamos ser expulsos por impostos caros e o alto preço de vida. É justo isso?", perguntou, indignado, o morador. 

A proibição de estacionar na calçada também foi motivo de reclamação. "A R$ 2 por hora, teremos que pagar R$ 300 por mês se deixarmos o carro na rua seis horas por noite. O pobre não tem dinheiro para pagar isso. Vai ter que vender o carro ou morar em outro lugar", sentenciou.

Sílvio Ronaldo, indignado, ainda passou por uma experiência desagradável no Morro da Providência, onde nasceu. Segundo ele, os planos eram de voltar a morar no morro, mas eles foram barrados pelo teleférico que será inaugurado em abril no local:

"Eu tive que sair de lá. Minha casa era do lado do teleférico, e eu tive que sair porque me disseram que precisavam demolir a minha casa para alargar a rua. Não só a minha casa, mas a de centenas de outras pessoas. Negociaram comigo e me deram um apartamento aqui embaixo. Tive que sair, por bem ou por mal", finalizou Sílvio.

Respostas oficiais

A respeito da propaganda eleitoral de Thiago K. Ribeiro, apoiado por Eduardo Paes, a Prefeitura do Rio declarou que esse não era um problema da alçada dela, e pediu que o Jornal do Brasil entrasse em contato com a assessoria da Comlurb. 

A Comlurb, em nota, diz que " As propagandas eleitorais postadas em vias ou prédios públicos já foram retiradas. Com exceção das que estão em imóveis particulares. A Comlurb só pode retirar propaganda eleitoral das vias ou prédios públicos.

Em imóvel particular a responsabilidade é do proprietário. Eventualmente pode existir uma ou outra propaganda, colocada em local de difícil visibilidade.

Mas tão logo tome conhecimento, ou seja informada, a Comlurb  efetua a sua retirada"