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No "forno" da Biblioteca Nacional, livros e documentos em risco

Temperatura chegou a mais de 47ºc. Servidores fazem protesto por melhores condições

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Para denunciarem as condições precárias que enfrentam no cotidiano, servidores da Biblioteca Nacional fizeram um protesto nas escadarias da instituição, na Cinelândia, na tarde desta quarta-feira(19). 

Enquanto ele se manifestavam na rua, no interior do prédio o Jornal do Brasil constatou que enquanto ao ar livre a temperatura beirava os 30ºc, no interior da Biblioteca Nacional chegava a 47,4ºc. "Em um dia com calor de até 42ºc, a temperatura vai a 54ºc. É desumano trabalhar assim", definiu Flavia Cezar, diretora da Associação dos Servidores da Fundação Biblioteca Nacional.

Protesto animado

Para reclamarem da alta temperatura a que estão sujeitos no dia-a-dia, os manifestantes recorreram à criatividade e à ironia: colocaram chifres e tridentes de diabo, simbolizando o inferno a que se submetem no trabalho.

Os problemas não se limitam à alta temperatura dentro do prédio e tampouco são novos. Lia Jordão, vice-presidente da Associação dos Servidores da Fundação Biblioteca Nacional, lembrou que os problemas não são recentes:

"É um problema que vem se agravando no último ano. Não houve a devida manutenção, e o resultado é o que vimos hoje. Além do calor, sofremos com a chuva, que se for muito forte acaba molhando os livros no último andar e. Com esse calor, qualquer um sua, e aí pode também contribuir para deteriorar o acervo", explicou Lia.

O movimento, segundo Flávia Cezar, também diminuiu consideravelmente. "Normalmente, vinham de 300 a 400 pessoas por dia para consultas a livros e documentos. Hoje em dia, com essas condições, se 100 pessoas vêm à Biblioteca já é muito", explicou.

No dia 11 de novembro, inclusive, houve um acidente que por pouco não atingiu quatro funcionários: Uma grade de ar condicionado caiu no 5º andar. O motivo foi o suporte de madeira ter sido inteiramente devorado por cupins.

"Os insetos, com o calor e a umidade, se proliferam depressa. Isso é um perigo para os livros e para as instalações", disse um funcionário, que não quis se identificar. Flavia  que ainda explicou o motivo de tanto calor:

"O teto da Biblioteca Nacional tem uma claraboia que funciona como uma estufa. Quando a luz do sol entra, é um desespero"

Assim que ficou registrado a temperatura de 47,4ºC, às 13h29 no 5º andar do prédio, um funcionário brincou: "E hoje nem está tão quente, hein?", o que era uma verdade: às 13h44, na Cinelândia, a temperatura era de 30ºC.

Laudo do Iphan confirma preocupação

O laudo técnico realizado por técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional é claro: Há diversas falhas encontradas nas instalações da Biblioteca Nacional. 

Em um trecho do laudo, na página 6, lê-se:

"Em razão do exposto, faz-se urgentemente necessário executar vistorias semestrais interna e externamente, em toda a construção, paralelamente a execução de rigorosos levantamentos do estado de conservação e danos nas paredes, esquadrias, tetos e pisos, bem como nas diversas instalações, particularmente hidráulicas e de ar condicionado".

A data do laudo é 13 de setembro de 2012, sob o ofício 07/2012 e assinado por Maria Cristina Vereza Lodi, superintendente do Iphan.

Três meses depois da perícia, pouco ou nada foi feito pela Biblioteca Nacional."Queremos sensibilizar as autoridades para que resolvam essa situação, a presidente Dilma e a ministra Marta Suplicy, que inclusive esteve aqui recentemente", finalizou Lia Jordão.

Biblioteca Nacional responde

Em nota, a Fundação Biblioteca Nacional informa que "mantém permanente monitoramento de temperatura das áreas com guarda de acervo da Biblioteca Nacional. Além disso, a FBN informa que a reforma do sistema complementar de ar condicionado foi concluída dia 17 de novembro e desde então está em fase de teste. O teste definitivo será feito nos dias 23 e 24/12.  Sobre o incidente do dia 11/12, quando houve a queda de uma grade de proteção do retorno de ar condicionado do 5º andar do prédio-sede, os técnicos de arquitetura e de segurança da FBN constataram que o incidente foi pontual e que não há qualquer tipo de risco para o acervo ou as equipes."