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Saara: após incêndio, vendedores reclamam de insegurança no local

Coordenador do Crea-RJ alerta para perigo de sobrecarga no verão

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Um dia após o incêndio que atingiu três lojas, a Saara (Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega), maior centro de comércio popular do Rio, viveu dia de menos movimento, mas de mais apreensão, principalmente na área em torno das lojas atingidas. "A gente achava que apesar do incêndio, com o tempo ruim, o movimento seria melhor, mas as pessoas estão indo pro shopping, elas têm medo, todo ano acontece alguma coisa aqui", reclama Rose Marie Araújo, gerente de uma loja de bijuterias na Rua da Alfândega.

Michelle Ramos, vendedora de uma loja de roupas ali perto, faz coro: "Sempre tem algum problema aqui: é bueiro que explode, é incêndio, prédio que cai. Isso acaba assustando as pessoas, que vão comprar em outro lugar". O fiscal Jefferson Cavalcante concorda. Para ele, o movimento deste domingo está "muito mais fraco" do que em 2011. 

Rose Marie acusa as autoridades de demorar nas reformas prometidas para este ano. Além disso, reclama que a prefeitura disponibilizou apenas um arquiteto para autorizar estas obras em todas as lojas da Saara, prolongando o processo.

"As lojas são velhas. A gente tem que melhorar a fachada, fazemos a nossa parte, mas eles não vêm aqui. Demoraram um ano apenas para vir tirar as fotos, e agora tem só um arquiteto para autorizar todas as obras. Então, ficamos esperando aqui. Enquanto isso, estes desastres vão acontecendo", conta.

Porém, algumas quadras à frente, comerciantes comemoravam a movimentação do comércio popular. "Acho que ali perto do incêndio deve ter diminuído, mas aqui perto do metrô tá ainda mais forte que ano passado", conta Kelly Fernandes, vendedora de um loja de enfeites natalinos. "Medo a gente tem, né? Principalmente aqui que tem um monte de luz, coisa que é fácil pegar fogo", relata Bruna Luiza, também funcionária da mesma loja.

Alheia ao acidente, a administradora Eliana Araújo escolhia os presentes de Natal para a família ao lado da filha. "Eu não tenho medo não. Acho que a estrutura daqui muito frágil, mas a gente fica pouco tempo dentro das lojas, não fico pensando nisso", afirma. 

Possíveis causas

Por volta das 15h, bombeiros e a defesa civil realizavam o escaldamento nas lojas, que ainda mostravam sinais de fumaça em alguns pontos. O proprietário de uma das lojas atingidas, que não quis se identificar, afirmou que não há nada na estrutura do antigo sobrado que possa ser aproveitada. "Ainda não sabemos a causa do acidente, mas os bombeiros falaram que não tem mais o que fazer, teremos que reconstruir tudo", contou.

O engenheiro Luiz Antonio Cosenza, coordenador da Comissão de Avaliação e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Agronomia (CREA/RJ), avalia que, apesar de não ter conhecimento das causas do acidente, acredita que a fiação elétrica pode ter contribuído fortemente para o incêndio. 

"Os sobrados do centro da cidade são muito antigos, algumas estruturas são feitas até com tecidos. Eles não estão preparados para receber estas cargas, que vêm aumento ao longo de anos. O consumo aumentou com a melhora de vida das pessoas, e os comerciantes muitas vezes têm sobrecarregado suas fiações elétricas", afirma.

A fiscalização elétrica é responsabilidade do proprietário dos imóveis ou, no caso de prédios, dos síndicos. Porém, "poucos fazem isso com frequência", aumentando as chances de que novos incêndios aconteçam. "Com este calor, se não acontecer mais nenhum incêndio, vou ficar surpreso, pois o que esperamos são outros acidentes", prevê.

Bombeiros demoraram a chegar

De acordo com o presidente da Saara, Enio Bittencourt, os bombeiros teriam demorado 30 minutos para chegar. O local estava com grande movimentação em razão da proximidade do Natal. O fogo teria começado por volta das 9h30, no estoque que funciona no segundo andar de uma loja de artigos infantis, que ocupa dois prédios entre a Rua Tomé de Souza e a Praça da República, no Centro, e se espalhou para outras lojas ao lado. 

"Oficialmente, o Corpo de Bombeiros foi chamado às 9h44. Logo que os bombeiros chegaram aqui, pela intensidade das chamas, foi pedido reforço do quartel do Caju, que fica na Zona Portuária, e do quartel de Vila Isabel, que fica na Zona Norte", afirmou o sargento Dimas, da assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros. 

O locutor que trabalha na loja que fica em frente a atingida pelas chamas, Carlos Augusto Melo, disse que os bombeiros demoraram cerca de 10 minutos para chegar, mas demoraram muito tempo para estacionar os caminhões e afastar as pessoas que estavam na rua. Os bombeiros já tinham dado o incêndio como controlado, mas por volta das 11h50 da manhã as chamas retornaram ao local para, depois, serem novamente controladas.

Segundo Enio Bittencourt, a loja de artigos infantis foi totalmente destruída e todo o estoque foi perdido. Uma pessoa que não quis se identificar informou que a loja tinha cerca de R$ 3 milhões em mercadorias no estoque, mas os proprietários tinham seguro. A família dona da loja atingida tem comércio na região há mais de 30 anos, e eles têm outro ponto de comércio no Saara. 

Área segue isolada

Toda a área do incêndio, entre a rua Tomé de Souza e a Praça da República, ficou isolada no sábado. Neste domingo, seguiam isoladas apenas as fachadas das lojas atingidas. O presidente da Saara estima que 1 milhão de pessoas estejam circulando pela região a 10 dias do Natal. A Saara tem mais de 1,2 mil lojas.

“Não temos ideia do prejuízo e nem de como começou o fogo. Houve correria pois a rua estava lotada e a loja estava funcionando, pois há mais de um milhão de pessoas circulando pelas ruas do Saara”, disse Bittencourt. 

O Jornal do Brasil entrou em contato com a Prefeitura, que nos encaminhou para a Secretaria de Conservação, onde ninguém atendeu nossas ligações.