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Príncipe da Holanda é recebido com  protesto de índios

Ele repreendeu seguranças por não permitirem acesso dos manifestantes 

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O príncipe de Orange, da Holanda, que chegou ao Rio de Janeiro nesta quinta-feira (22), recebeu em sua visita ao Maracanã um documento de diversas entidades sociais que contestam a decisão do governo fluminense de demolir as construções no entorno do local, a fim de preparar o estádio para a Copa do Mundo e a Olimpíada. 

Classificando o projeto como "arbitrário e absurdo", o texto diz que "a participação da Família Real pode significar a corresponsabilização desses atores na destruição de espaços públicos de uso esportivo, cultural e social, na violação de direitos de atletas, alunos e indígenas e mau uso de dinheiro público por parte do governo do estado do Rio de Janeiro". 

Curiosamente, a iniciativa de ter acesso ao texto partiu do próprio príncipe, que repreendeu os seguranças que tentavam afastar os manifestantes, segundo relatos. De acordo com o índio Evandro Makko, da etnia Assurini, que participa do movimento de resistência da Aldeia Maracanã contra a demolição do Museu do Índio, o príncipe disse que gostaria de conhecer a aldeia.

O príncipe de Orange e a princesa Máxima almoçaram nesta quinta-feira (22) com o governador do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito Eduardo Paes no Palácio Guanabara, no primeiro compromisso de sua missão comercial no país. No Complexo do Maracanã, autoridades e empresários, brasileiros e holandeses, participaram de seminário sobre experiências na construção de estádios esportivos. Especula-se que companhias holandesas estejam interessadas nas novas estruturas do Maracanã.

A comitiva traz representantes de 175 empresas e institutos holandeses inovadores e inclui Suas Altezas Reais, o Príncipe de Orange e a Princesa Máxima, a Ministra de Comércio Exterior e Desenvolvimento e o Secretário de Estado da Educação, Cultura e Ciência. 

Protestos 

Ainda sem saber sobre seu futuro próximo, os índios da Aldeia Maracanã e todos os envolvidos no processo de reforma do entorno do Maracanã voltaram a protestar contra as obras que transformarão as imediações do estádio para a Copa do Mundo e a Olimpíada. O cacique Tukano, representante da ocupação indígena, reafirmou que vão resistir à demolição e ficarão no local “até o fim”. 

De acordo com o cacique, uma perícia que poderia atestar a importância histórica e arquitetônica do Museu do Índio, marcada para ontem, foi cancelada. O defensor público Daniel Macedo, do 2º Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva da Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro, já havia classificado como 'ilegal' a decisão da presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), desembargadora federal Maria Helena Cisne, que cassou duas liminares que impediam a demolição do prédio do Antigo Museu do Índio, bem como a retirada dos indígenas.

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“A Defensoria Pública, bem com outras instâncias do poder público, estão favorecendo a não demolição do Museu do Índio. Era para ter acontecido a perícia ontem. A informação que eu tenho é que serão construídos restaurantes, shoppings e estacionamentos nesta região”, disse Tukano.

Nesta sexta-feira (23), os índios realizam uma coletiva de imprensa com a participação de representantes da Defensoria Público Federal, antropólogos e arquitetos para contestar os planos do governo estadual para a região. Além do Museu do Índio, também serão demolidos o estádio de atletismo Célio Barros, o parque aquático Julio Delamare e a escola municipal Friedenreich. Segundo o cacique, nenhum representante do governo confirmou a presença na coletiva. 

Documento

Representante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, Gustavo Meth participou da elaboração do documento entregue ao casal real holandês. Segundo ele, o objetivo é alertar os investidores holandeses que "tomarão posse de um projeto cheio de arbitrariedades". 

"Consideramos que eles, ao investirem nas medidas do governo, serão corresponsáveis nesse processo absurdo com violações de direitos", afirmou Meth. "O importante é dar visibilidade ao processo autoritário sem diálogo com os grupos que estão envolvidos". 

Os manifestantes tentaram, sem sucesso, falar com o jogador Clarence Seedorf, também holandês, que esteve no Maracanazinho para lançamento de um projeto social junto com o príncipe de Orange.  

O documento é assinado pelo Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, pela Aldeia Maracanã, pela Comissão de Pais e Alunos da Escola Municipal Friedenreich, pela Frente Nacional dos Torcedores e pelos Atletas, Professores e Usuários do Célio Barros e do Júlio Delamare.