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Construções em Manguinhos podem gerar intoxicações em futuros moradores

Crea faz restrições a projeto de Cabral e Freixo estranha pressa do governador 

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"A construção em cima de material contaminado pode gerar intoxicações por conta dos gases gerados pelos compostos químicos que se acumularam no solo. A descontaminação é cara e trabalhosa e, na pior das hipóteses, deve ser feita a remoção de todo o solo." 

O parecer em relação à proposta do governador Sérgio Cabral, de construir casas populares na área hoje ocupada pela Refinaria de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, é de Jaques Sherique, vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea). “Não é ideal”, sintetizou.  Segundo Sherique, “as experiências que tivemos com plantas desativadas acabaram gerando algum tipo de problema futuro”.   

O representante do Crea cita casos passados, como o terreno contaminado pela Shell em Paulínia, São Paulo, que resultou na intoxicação dos ocupantes e vizinhos do terreno. “É preciso um tratamento perfeito até que não haja mais hidrocarbonetos. A simples limpeza e remoção dos tanques não significa a descontaminação de toda a área, que vai desde a superfície até o lençol freático”, lembra.   

Os estudos técnicos de viabilidade do projeto e o trabalho de avaliar a descontaminação não cabem ao Crea. O órgão se encarrega da supervisão dos profissionais que irão realizar os trabalhos e somente executa vistorias e fiscalizações em caso de eventuais falhas.  “O engenheiro tem que recolher uma Anotação de Responsabilidade Técnica junto ao conselho, sem isso a atividade é considerada irregular. Mas o Crea não controla se o Estado está fazendo o trabalho direito ou não”, explica.  

Já o deputado Estadual Marcelo Freixo vê com desconfiança a desapropriação da refinaria. Ele considera incoerente a postura do  governo e afirma que “pode ser que haja interesses escondidos”. 

“O governador foi com muita sede logo após a entrada da polícia. Essa pressa me causou estranheza, já que Cabral nunca foi muito preocupado com a questão de moradia popular”, avalia.

Freixo concorda que há um grande déficit habitacional no Rio. No entanto, ele acredita que existem outros espaços mais adequados e baratos para a construção de bairros populares: ”70% do terreno do Porto Maravilha é público e não há previsão de moradias ali”, exemplificou.  

O deputado cita ainda o terreno da antiga penitenciária Frei Caneca, na Zona Norte do Rio, que foi demolido em 2010 e recebeu a promessa de criação de apartamentos destinados às famílias de baixa renda. 

“Eles anunciaram o terreno da Frei Caneca para construção de moradias populares. Até hoje está parado, mostrando que não é prioridade. De repente ele pega a área da refinaria, que segundo os especialistas é muito contaminado. Pelo conjunto de ações do governo, não faz sentido esse anúncio”, conclui.

* Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil