ASSINE
search button

Consórcio inicia obras no Hotel das Paineiras sem autorização do Iphan

Tradicional imóvel, inaugurado por D. Pedro II, está abandonado há 30 anos

Compartilhar

O prédio do antigo Hotel das Paineiras, no Parque Nacional da Tijuca, que será transformado em Complexo Turístico e Ambiental do Corcovado, começou a sofrer intervenções sem autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Como a área é tombada desde 1967, após denúncia do Jornal do Brasil, o Iphan entrou em contato com a administração do Parque, e determinou a paralisação das atividades.  Na próxima semana, uma equipe de fiscalização irá até o local avaliar as condições técnicas do trabalho que está sendo realizado por cerca de 20 operários.

Dentro do Hotel das Paineiras, abandonado há cerca de 30 anos, todas as estruturas de madeira como portas e janelas, encanamento, parte elétrica, pisos e paredes estão sendo quebrados e amontoados no lado de fora. Na área externa, além das pilhas de entulho, os barrancos e encostas foram escavados para ampliar a área plana do terreno.

Ao contrário do que mostram as fotos da galeria abaixo, o consórcio formado pelas empresas Beltour (atual permissionária do serviço de vans no parque), Esfeco (arrendatária do Trem do Corcovado) e Cataratas S.A. (concessionária que opera serviços semelhantes no Parque Nacional do Iguaçu e em Fernando de Noronha), garante que não há ‘nenhum tipo de obras’ onde funcionava o Hotel das Paineiras.

“Muita coisa ali está caindo, então cercamos a área com tapumes e iniciamos uma limpeza do prédio”, disse o coordenador geral do Consórcio, Luiz Fernando Barreto. “A intenção é impedir acidentes com turistas”.

O coordenador de uso público e negócios do Parque Nacional da Tijuca, Dênis Rivas, alegou desconhecer intervenções no Hotel das Paineiras, e revelou surpresa com a atividade no local.

“Até onde sei, nada está sendo feito naquela área”, disse. “É preciso uma autorização do Iphan, o que ainda não aconteceu”.

História de gala

O Hotel das Paineiras foi inaugurado junto com o trecho Cosme Velho-Paineiras da Estrada de Ferro do Corcovado, no dia 9 de outubro de 1884. Nesse dia, o imperador Pedro II e demais convidados foram recepcionados no hotel-restaurante com um farto lanche fornecido pela Casa Paschoal, então estabelecida na "chic" Rua do Ouvidor.

Em idos dos anos 1900, o Paneiras rivalizou com o Copacabana Palace. Hospedou muitos ilustres, como os presidentes Washington Luís, Getúlio Vargas e Café Filho. Sarah Bernhardt e a rainha Elizabeth, da Inglaterra, foram outras hóspedes famosas do hotel. Um dos charmes do local era a vista simultânea para a Zona Sul do Rio e para o Cristo Redentor, além da floresta que cerca todo o imóvel.

O hotel também foi usado como concentração da Seleção Brasileira de Futebol , nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, e das equipes do Botafogo, Vasco e Fluminense. No final dos anos 70 e início dos 80, os atletas que faziam cooper na Estrada das Paineiras se deliciavam com o farto café da manhã do hotel.

A fase durou até o final de 1984, quando o imóvel foi arrendado à Associação Educacional Veiga de Almeida, que promoveu obras no antigo prédio a fim de transformá-lo em um hotel-escola. A obra nunca foi concluída e conferiu ao velho hotel um aspecto ainda mais abandonado. Hoje, só quem aparece por lá são os gatos do mato e os macacos que habitam o Parque Nacional da Tijuca.