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Passageiros se revoltam com acidente de trem

Segundo usuários da Supervia, problemas são constantes. Reincidência preocupa autoridades

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O descarrilamento de um trem da Supervia na estação de Madureira na manhã desta terça-feira(25) causou indignação e revolta entre os que costumam usar o meio de transporte emo seu cotidiano.

E essa situação é uma constante. Entre janeiro e a data de hoje, a Agência de Transportes do Rio de Janeiro(Agetransp) abriu 53 boletins de ocorrência referentes a incidentes considerados " relevantes" da concessionária.

Enéas Moza era um dos passageiros que estava dentro do trem durante o descarrilamento. Ele contou o terror em participar de um momento dramático como esse:

" Vim de Japeri e o trem já estava cheio. Foi um golpe muito forte, e o susto também. Muita gente dentro do trem ficou nervosa e teve de ser removida de maca", contou Enéas, para quem os problemas não vêm de hoje. " O serviço oferecido é muito ruim desde sempre. É superlotação, trem andando com as portas abertas e em péssimo estado de conservação...a lista é grande", desabafou.

Isabela Silva, de 19 anos, trabalha em uma lanchonete logo acima da pilastra que ficou mais avariada. Segundo ela, o impacto abalou a estrutura da estação de trem:

" Só pensava na minha filha quando tudo aconteceu. Fiquei com muito medo, achei que tudo fosse desabar. Eu mesma fiquei muito tempo tremendo até conseguir me acalmar", pontuou a funcionária.

Rodrigo, de 30 anos, é taxista e foi duro ao criticar a Supervia em um de seus intervalos de trabalho. Ele passou muitos anos usando os serviços dos trens e lembrou um incidente que ocorreu com sua mãe, em 2009, na estação do Méier:

" Estava com minha mãe e ela caiu no vão entre o trem e a plataforma, ficando com a perna presa. Ninguém da Supervia foi ajudar, os próprios passageiros do trem, que estava lotado, é que me ajudaram a tirar minha mãe dali. Dois dias depois ela teve uma trombose diagnosticada. Ela entrou com processo contra a Supervia e perdeu. Não teve qualquer ajuda", lembrou Rodrigo, indignado. 

Ele questionou a qualidade dos serviços oferecidos e colocou uma questão: "Se a Supervia está tendo problemas com os trens quase diariamente, por que não abrir novas licitações? Se há algo errado, as coisas têm de mudar", finalizou Rodrigo.

Supervia se defende e Crea-RJ alerta

A Supervia, que administra o serviço dos trens no Rio de Janeiro, se defendeu das acusações através de uma série de notas oficiais emitidas durante a manhã e a tarde desta terça-feira(25).

Nas duas primeiras,liberadas às 9h24 e 9h28, a concessionária citou os atendimentos do Corpo de Bombeiros após o acidente, o deslocamento dos clientes que estavam no trem acidentado para outras composições e a transferência dos feridos para os hospitais da região.

Às 9h29, a Supervia interditou um dos acessos à estação de Madureira, e explicou em outra nota que isso acontecera por motivos de segurança.

Por volta das 11h48, foi informada a normalização de circulação nos ramais de Japeri, Deodoro e Santa Cruz. A liberação do trecho interditado na estação de Madureira estava marcada para as 15h.

Sobre o estado do trem acidentado, a Supervia declarou: 

"A composição que descarrilou nesta manhã faz parte da série de trens que serão amplamente reformadas com ar-condicionado e novos equipamentos. Já estão em circulação oito trens deste modelo já reformados e até o fim do ano, outras sete composições revitalizadas serão entregues à operação."

Em outro trecho, o órgão informa que o investimento de modernização e reforma dos trens chega a R$ 190 milhões e visa trazer mais conforto aos passageiros, algo que os passageiros fizeram questão de dizer que não existe nas atuais composições.

Já o Conselho Regional de Agronomia e Arquitetura(Crea-RJ) vai realizar uma reunião na próxima quinta-feira(27) para avaliar os estragos deste acidente.

Luiz Antonio Cossenza, coordenador da Comissão de Análise e prevenção de acidentes do conselho, esteve na estação de Madureira e fez questão de ressaltar que o acidente é apenas um resultado de más administrações da Supervia:

" O abandono é muito grande, e para recuperar um sistema abandonado é muito difícil. A falta é de manutenção, de investimento. Os novos trens deram até uma melhorada, mas o sistema ferroviário não tem os carros como o único componente. Até o serviço melhorar realmente ainda teremos muitos problemas", comentou Cossenza.O coordenador também fez questão de ressaltar que o prejuízo poderia ter sido muito maior:

" O trem não estava superlotado, o que foi uma sorte tremenda. Se isso tivesse acontecido, certamente teríamos tido vítimas fatais", finalizou.