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Apesar da instalação de UPP, abandono ainda impera na Rocinha

Esgoto a céu aberto e dificuldade de locomoção nas ruelas são problemas recorrentes 

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“Eu só queria poder levar minha mãe para passear. Mas não, ela vai morrer aqui nesse quarto”, conta angustiada Maria de Fátima, 56, moradora da Rocinha, impossibilitada de circular com a mãe – cadeirante -  na favela, por conta dos obstáculos e do abandono nas vielas da comunidade.

O drama de Maria seria minimizado se o local onde vive contasse com serviços básicos como acessibilidade e mobilidade – mudanças prometidas para as comunidades depois da ocupação pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Ela conta que sua mãe, Fátima, com 86 anos, precisa de acompanhamento por conta de uma diabetes, no entanto, ela não sai de casa há anos pois as ruelas esburacadas e cheias de degraus impedem a utilização da cadeira de rodas: “Não há condições de descer com ela. A médica da UPA tem de vir aqui cuidar dela, mas isso raramente acontece”

Moradora da Rocinha há mais de 30 anos, Maria lembra que costumava se divertir no riacho em frente à sua casa. Hoje o local se tornou um córrego onde o esgoto escorre a céu aberto e os ratos circulam tranquilamente. “A desculpa de que os serviços não chegavam por conta dos bandidos é papo furado. Não vejo melhorias nos serviços sociais hoje”, conta Antonio Correa.  Correa veio de Pernambuco em 1975 e na Rocinha construiu sua casa. Ele critica o total descaso com a comunidade e também os maus hábitos de alguns moradores. “Enquanto as pessoas continuarem a jogar sujeira, os ratos continuarão aqui. É triste, eu bebia água nesse riacho”, reclama.

A coleta de lixo é um dos serviços que precisa ter maior alcance, reclamam os moradores. Por conta da distância e dificuldade em chegar aos pontos onde é coletado, muitos acabam despejando o lixo no canto das vias.

Na parte plana da favela, entretanto, a ocupação pela polícia começa a trazer benefícios.  Na Via Ápia, uma das mais movimentadas e que concentra grande quantidade de comércio, o valão que cruzava a rua começa a ser desassoreado e será coberto. O mesmo local costumava abrigar uma boca de fumo, hoje, porém, os turistas circulam por ali com frequência.

“Melhorou bastante, está bem mais tranquilo. Antes a gente tropeçava em armas aqui. Os bandidos ficavam bem em frente à minha casa”, afirma um morador que preferiu não se identificar.

Medo de represálias

Apesar da ocupação, muitos dos que vivem na Rocinha ainda hesitam em conversar com a imprensa, por medo de represálias. Talvez pelos anos em que o tráfico ditava as regras na favela, ou por conta dos traficantes que ainda vivem na comunidade apesar de menos ostensivamente.

“Acho que o tráfico sempre vai existir. Mas hoje eles se escondem nas vielas da parte alta da favela. Lá dificilmente você vê os policiais circulando”, conta um morador. Um policial do Batalhão de Choque também admitiu dificuldade para zerar o tráfico no local: “Eles são como ratos, se escondem cada vez que nos aproximamos”.

A instalação da UPP na Rocinha foi considerada um marco pelas autoridades, apontada como uma das iniciativas mais importantes para limitar a atuação do tráfico no Rio de Janeiro. Ocupada pela polícia desde novembro do ano passado, agora são 700 policiais militares policiando a região. Eles terão auxilio de 12 motos e de cem câmeras de monitoramento. As câmeras ainda não estão em funcionamento e ainda não há prazo para serem implantadas.