O 3º Sargento do Batalhão de Choque, Paulo Cesar de Lima, 33 anos, foi enterrado na manhã desta segunda-feira(17), no Memorial Parque Niterói, no bairro de Vista Alegre,em São Gonçalo. A imprensa presente no local foi proibida de registrar imagens da cerimônia, em respeito à família e aos amigos do oficial.
A restrição pode ser vista também como um reflexo do medo de familiares e colegas, que se recusaram a dar qualquer declaração sobre o assunto. O maior receio é de uma represália dos traficantes do Morro da Coroa, na região do Fallet, entre os bairros de Santa Teresa e Catumbi, na Zona Sul do Rio. A área, inclusive, abriga uma Unidade de Polícia Pacificadora(UPP).
Paulo Cesar de Lima faleceu na madrugada desta segunda-feira(17), aos 33 anos, após um confronto entre policiais e traficantes na comunidade da Coroa. O 3º sargento fazia patrulhamento de rotina durante a ação policial quando levou um tiro na virilha.Outro oficial também foi baleado. Paulo Cesar foi hospitalizado e chegou a fazer uma cirurgia, mas não resistiu.
Tristeza entre amigos e familiares
Mais de 15 veículos do Batalhão de Choque da Polícia Militar, entre carros e caminhões, estiveram no cemitério, assim como oficiais de outros batalhões. Cerca de 300 pessoas participaram do último adeus a Paulo Sérgio.l
Amigos e colegas do sargento, durante o deslocamento do caixão, lembravam com carinho de Paulo Cesar. Os primeiros falavam sobre o jeito brincalhão de ser do rapaz, e os colegas do Batalhão faziam questão de lembrar o quanto o sargento era querido dentro da corporação.
O cortejo começou quando a banda da Polícia Militar chegou ao cemitério. Coberto com a bandeira do Brasil, o caixão foi conduzido através de um corredor de soldados do Batalhão de Choque. Eles cantavam a " Canção do BPCHQ", o hino da corporação. Muitos dos soldados foram às lágrimas no final da canção, com a estrofe:
"Nosso Batalhão de Choque com honestidade/ Trabalhando e servindo em nossa cidade/ Com o peito flamejante e amor varonil/ Em defesa do nosso Brasil!", bradaram. Por último, gritaram em uníssono o nome da corporação: " Choque!"
A bandeira foi retirada de cima do caixão e entregue à mãe do oficial morto, que chorava pedindo, de acordo com sua fé, que o filho tivesse um bom destino. O filho de Paulo Cesar também esteve presente. Ele, porém, é ainda muito jovem para entender que tornou-se órfão de pai.
Confrontos são frequentes na região
A UPP do Coroa/Fallet/Fogueteiro foi fundada em 25 de Janeiro de 2011. A Unidade, que abrange os morros de mesmo nome e o bairro do Rio Comprido, é o local do confronto que acabou por matar o sargento Paulo Cesar de Lima.
A unidade é conhecida como uma das mais problemáticas do programa de Polícia Pacificadora. Prova disso foi a existência, em 2011, de um esquema de corrupção que envolvia soldados da unidade. Um soldado perdeu a perna em confronto com traficantes em junho de 2011, enquanto outro ficou paraplégico após levar um tiro no pescoço em setembro do mesmo ano.
Nos últimos meses, os confrontos na área, principalmente no morro da Coroa, se intensificaram. Em junho, uma menina de 10 anos foi atingida por uma bala perdida. Na semana seguinte, o Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, declarou que a UPP receberia reforço no seu efetivo de policiais.
Em julho, a sede da UPP foi atacada a tiros de fuzil por traficantes da região, em um tiroteio que durou dez minutos e trouxe pânico aos moradores.
A assessoria de imprensa da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, em nota, declarou que a resistência dos traficantes está prevista no programa de implantação das UPPs no Rio de Janeiro.
Foi lembrado o fato de que o tráfico se instalou na comunidade há cerca de 50 anos. Os traficantes utilizam-se de senhoras idosas e menores de idade para conduzir seus 'negócios'. São fatos, de acordo com a entidade, que dificultam a ação dos oficiais da UPP no local.
O policiamento nos Morros da Coroa, Fogueteiro e Fallet está reforçado com o incentivo de soldados de outras UPPs.