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Enterro de vítimas de chacina atrai multidão a cemitério Olinda, em Nilópolis

Dezenove pessoas são presas em ocupação da Favela da Chatuba.

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As seis vítimas da chacina ocorrida em uma cachoeira próxima à favela da Chatuba foram enterradas nesta terça-feira (11) no cemitério Olinda, em Nilópolis. Cerca de 400 pessoas foram se despedir de Christian Vieira, de 19 anos; Glauber Siqueira, Victor Hugo Costa e Douglas Ribeiro, de 17 anos; e Josias Serles e Patrick Machado, de 16 anos.

O clima era de consternação, tristeza e revolta. Alguns dos amigos de Patrick, usando uma camiseta com a foto do jovem, falaram da rotina do rapaz, subitamente interrompida pela tragédia:" Ele gostava muito de soltar pipa, de dançar também. Era um cara muito brincalhão, com a vida toda pela frente. Infelizmente, acabou", contou com tristeza um dos amigos de Patrick, que preferiu não se identificar. Alex, que também estava no grupo, falou sobre o aumento da violência em Nilópolis e Mesquita.

" Aumentou muito a quantidade de assaltos e roubos de moto por aqui. Os traficantes passam de fuzil, não querem nem saber. Pode saber: vai ter um pouco de policiamento durante uma ou duas semanas e depois vai voltar tudo isso aí de novo. A Baixada está esquecida", lamentou, sem esperança.

Sildis Vieira, pai de Christian Vieira, fez um discurso forte durante o enterro do filho, enquanto dava dicas à polícia:

" Só quero dizer para esses vagabundos que isso não vai ficar impune. Se a polícia continuar na Chatuba, vai encontrar muitos corpos ainda", disse, entre choros e gritos de desespero dos familiares e amigos dos jovens chacinados. A Cachoeira da Biquinha, segundo presentes, foi mencionada como local de mais corpos enterrados na região. Após o discurso de Sildis, os presentes gritaram: " Justiça! Justiça! Justiça!".

O pastor Robson Dinis, da Igreja do Nazareno de Nilópolis, falou de Josias Serles e de suas visitas ao templo religioso. " Era um garoto maravilhoso, muito inocente. Ele sofreu essa morte terrível, inocente, assim como todos os outros envolvidos. Mas eles estão com Deus, e Deus está com eles.

Muitos dos presentes usavam uma camisa que continha uma montagem com fotos dos seis jovens assassinados, além da inscrição: " Quem inventou a distância não sabe a dor de saudade".

Operação na Chatuba

Chegou a 19 o número de pessoas presas durante a ocupação policial da Favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense. Dez suspeitos foram presos em flagrante, entre eles, Ricardo Sales da Silva, de 25 anos, e Monica da Silva Francisco, de 20 anos.

Um homem identificado apenas como Beto Gorducho estava em uma casa com 50 gramas de cocaína e R$ 15 mil em espécie. Outro conhecido como Bolota foi encontrado com uma arma, R$ 12.150 e um caderno de agiotagem. 

Dois menores foram apreendidos, sendo que um deles estava foragido de uma instituição para menores. Uma rádio pirata também foi achada na Chatuba. O dono foi levado para a delegacia para prestar esclarecimento.

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>> Bope ocupa a Chatuba após 12 assassinatos em três dias

Foram apreendidos, até a noite desta terça-feira(11) 933 papelotes, 320 cápsulas e 20 gramas de cocaína, 41 pedras de crack, 30 sacolés de maconha, uma faca, uma granada, um carregador de pistola calibre .380, três coldres, um par de coturno, um cinto, duas mochilas, sete telefones celulares, uma máquina fotográfica, cinco baterias de telefone celular, um cordão, um lampião, uma rede de campanha e R$ 15.084, 50 em espécie. Um carro também foi recuperado.

A Polícia Militar iniciou nas primeiras horas desta terça-feira (11) a ocupação permanente na comunidade. No local será implantada uma Companhia Destacada da Polícia Militar com 112 PMs. Cerca de 250 policiais militares do 3º Comando de Policiamento de Área (CPA), Coordenadoria de Inteligência (CI), Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), Batalhão de Ações com Cães (BAC), Grupamento Aeromarítimo e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) participam da ação. A onda de violência - no mínimo 12 mortes em três dias - levaram o comando da Corporação a tomar esta decisão.

Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) localizaram nesta terça-feira (11) quatro acampamentos que seriam usados pelos traficantes da favela da Chatuba. No final da tarde, também foi descoberto um gerador no alto do morro para o refino de cocaína.

A PM pede a colaboração dos moradores para a ação do BPChq e do Bope na comunidade. Uma forma importante de colaborar é denunciar criminosos, esconderijos e locais onde estão guardadas armas, drogas e outros produtos ilegais. Além disso, todos os moradores devem andar com documentos de identificação e os motoristas e motociclistas serão solicitados a mostrar documentos de propriedade de seus veículos, bem como a Carteira Nacional de Habilitação em dia. No caso das motos, também será exigido o uso de capacete.

Antes de os corpos dos seis jovens assassinados serem encontrados, traficantes invadiram o Colégio Estadual Nuta Barthet James, em Nilópolis, onde os jovens estudavam. Chegaram ameaçando alunos e professores. A diretora da escola, Maria Cristina de Moraes dos Santos, contou que dois homens entraram no local e arrombaram um portão de ferro. Em seguida, teriam quebrado carteiras e mesas e chegaram a ameaçar professores de morte. Nesta terça-feira (11) o colégio permaneceu fechado. Uma mensagem fixada no portão informa que não haverá aulas porque a escola está de luto.

Os alunos também teriam recebido torpedos nos aparelhos de celular, ameaçando com um arrastão na escola. Familiares das vítimas que chegavam para o velório na madrugada desta terça-feira (11) também foram ameaçados. Embora a quadra tivesse sido cercada pela Guarda Municipal os bandidos conseguiram fugir, segundo relataram parentes dos jovens assassinados.

As informações no final da tarde, segundo o delegado Júlio da Silva Filho, dão conta que os presos na operação de hoje estejam envolvidos com a chacina. Cerca de 20 pessoas estariam envolvidas nas mortes dos seis jovens, além de um pastor evangélico e de um policial militar e um jovem desaparecido. Segundo o delegado, nenhum dos bandidos que participou da chacina se encontra mais na favela da Chatuba.

Pai procura o corpo de filho desaparecido

José Adelcir da Silva Júnior, de 19 anos, está desaparecido desde a manhã de sábado(8). O pai do rapaz, José Aldecir da Silva, falou da última vez em que falou com  o filho:

" Eram 6 da manhã de sábado quando ele disse que ia passear na mata e, quando voltasse, ia arrumar o berço da filha que vai nascer ainda esse mês. Foi a última vez que eu vi meu filho", contou José Aldecir, que é bombeiro hidráulico. O filho trabalhava em uma fábrica de tecidos em Bangu, e o pai mostrou a carteira de trabalho do filho desaparecido.

O pai soube o que tinha acontecido com o filho através de um vizinho:" Ele me contou que viu meu filho tomando uma coronhada na beira do rio, às 7 da manhã de sábado (8). Ainda bem que eu não vi isso acontecendo. Se tivesse, eu poderia até morrer também, mas levaria um deles comigo", contou o pai, emocionado. A mãe do rapaz, em estado de choque, estava sentada em uma cadeira de plástico na rua, confortada por parentes e amigos.

José Aldecir da Silva se juntou em seguida às incursões do Bope na mata da favela. O pai explicou o que buscava: "Só quero ter o direito de poder enterrar o meu filho. Nada mais do que isso", finalizou.