Após mais de três meses de paralisação, o dia marcado para o início da reposição das aulas na Universidade Federal do Rio de Janeiro começou com tumulto e preocupação depois que um incêndio atingiu o prédio da Faculdade de Letras, na Ilha do Fundão, Zona Norte do Rio.
O incêndio ocorreu no almoxarifado, em uma sala que fica no térreo, aos fundos do prédio. De acordo com a assessoria da UFRJ, um curto circuito teria dado origem ao fogo. Estudantes, entretanto, informaram ter ouvido uma explosão no local. O Corpo de Bombeiros foi chamado e por volta das 9h30 o incêndio foi controlado. Ninguém se feriu e a energia do prédio teve que ser desligada por motivos de segurança. A universidade ainda não avaliou os prejuízos.
Por conta do incidente, o prédio permanece fechado e a retomada das aulas só acontecerá a partir da terça-feira (11). “O local é afastado das salas de aula e funciona numa área administrativa. Hoje, as aulas foram suspensas para análises na rede elétrica”, disse em nota a diretora da unidade, Eleonora Ziller. Uma reunião da Congregação da Faculdade de Letras está marcada para a próxima quarta, quando os estragos serão discutidos.
Infraestrutura "decadente"
As aulas na universidade foram interrompidas no dia 22 de maio pela greve dos professores e servidores federais. Entre as pautas dos grevistas estava a melhoria das condições na universidade. Sem melhorias, universitários voltaram a criticar o descaso em algumas unidades.
Um grupo de estudantes da Escola de Belas Artes reclamou da disparidade de condições entre os prédios de diferentes cursos. Segundo elas, enquanto o Instituto de Engenharia (COPPE) conta com ótimas instalações, outros, como o da Faculdade de Letras (FL), da Escola de Belas Artes (EBA) e até mesmo a reitoria possuem infraestrutura “decadente”.
“Não tem papel nos banheiros. O prédio de Letras e a EBA estão totalmente largados”, conta a universitária Dalita Antunes, 22 anos.
Na fachada do prédio de Letras é possível notar os sinais de má conservação. Nos fundos da unidade a vegetação cresce junto às janelas, próximo de onde ocorreu o incêndio. A estudante de artes visuais, Camilla Freitas, lembra que os cursos contam com bons professores, no entanto, a falta de materiais e instrumentos prejudica os alunos.
“O curso de moda muitas vezes não tem nem máquina de costura. No verão, o prédio de Letras fica um inferno porque algumas salas não têm ventilador”, reclama.
O espanhol Enrique Ansias, 23 anos, veio ao país estudar arquitetura na UFRJ. Ele acompanhou a greve no Brasil e a compara com a que enfrentou na Universitat Politècnica de Catalunya (UPC), em Barcelona. Sua impressão é de que falta união nas mobilizações por aqui.
“Lá, os estudantes ocupavam e permaneciam nos locais. Estavam todos unidos pelo objetivo em comum e no final o resultado era positivo. Aqui, enquanto uns protestavam, a maioria ficava na praia”, ironiza.
As aulas do primeiro semestre letivo começam a ser repostas hoje e devem ser concluídas em cinco semanas, de acordo com a Associação dos Docentes da UFRJ. Foi recomendado que não se apliquem provas durantes as duas primeiras semanas, e os professores que optarem por repor aulas aos sábados e em horários extragrade não poderão exigir presença dos estudantes.