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Moradores da Maré acusam PMs do Bope de truculência, omissão e roubo

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Moradores do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, acusam policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) de agirem com truculência durante operação na Favela Nova Holanda, além de não prestarem socorro a um estudante vítima de bala perdida e de terem invadido uma residência e roubado a quantia de R$ 1400 de uma senhora daquela mesma comunidade. Procurada, a Polícia Militar recusou-se a responder às acusações. 

De acordo com vizinhos e familiares de Fabrício de Sousa Melo, 18 anos, o jovem estava perto de um lava jato da região quando foi atingido. Ele ainda estava com vida quando foi encontrado, mas como os policiais não prestaram socorro, a vítima não resistiu. Além disso, familiares afirmam que os documentos que estavam com Fabrício desapareceram, fazendo com que o morto fosse registrado como indigente. Cerca de 20 pessoas registraram queixa na 21ª DP (Bonsucesso) relatando abusos.

"Arrastaram o corpo do meu irmão e deixaram ele agonizando no chão. Quando cheguei perto e pedi ajuda, os policiais me xingaram e me ameaçaram. Ele ainda estava vivo quando eu cheguei, mas deixaram ele morrer", contou Antonio de Sousa Melo, irmão da vítima.

Desesperada, a mãe de Fabrício, Elza de Sousa, 44 anos, contou que o filho havia começado a estudar há pouco mais de um mês. "Não é justo, meu filho trabalhou a vida inteira, estava juntando dinheiro, mataram meu filho, ele era trabalhador, um menino de bem". A mulher destacou a omissão de socorro: "Minha filha viu ele sendo atingido, a gente tentou, pediu pelo amor de Deus para a polícia, mas eles só nos xingavam e davam tiros para o alto, chamavam a gente de tudo que é nome".  

Em nota, a Polícia Militar afirmou que a vítima estaria envolvido com o tráfico de drogas local. Eles afirmam ter encontrado uma pistola 9mm e outra 380 com as vítimas. Familiares negam. Representantes da ONG Redes da Maré afirmaram que Fabrício fazia parte de um projeto de inclusão social chamado "Luta pela Paz", onde praticava boxe. 

Uma moradora de 65 anos, que preferiu não se identificar, ainda acusou os soldados do Bope de terem invadido sua residência. Segundo ela, o grupo revistou sua casa e levou cerca de R$ 1.400, que serviriam para pagar uma cirurgia. 

"Estava economizando há mais de 1 ano para fazer minha operação de catarata. Eles reviraram tudo, mexeram em toda a minha casa e abriram o saco onde estava o dinheiro", afirmou.

Eliana Sousa Silva, diretora da ONG Redes da Maré, reuniu todas as vítimas e seus familiares para elaborar uma queixa conjunta contra o Bope. "Não podemos deixar isso impune, temos que encontrar novas formas de combater esse tipo de ação. Se fosse no Leblon, ou em Ipanema, amanhã mesmo centenas de pessoas estariam reunidas, protestando. Precisamos lutar", afirmou em assembléia com outros colaboradores.  

Policial nega acusações

Por volta das 15h, todos os reunidos na Maré seguiram para a 21ª DP (Bonsucesso) onde prestaram queixa. Cerca de meia hora antes, os soldados que participaram da operação estavam no local. Um deles, que não quis se identificar, negou todas as acusações. 

"Isso não faz nenhum sentido. Nós entramos na favela com o intuito de localizar e prender o traficante SD. Fomos recebidos com muitos tiros, que revidamos. No tiroteio, dois elementos das facções foram atingidos. Nós prestamos socorro imediato. Estas acusações são infundadas", afirmou. 

A outra vítima, Diones Nunes da Silva, que tinha passagem pela polícia, também não resistiu aos ferimentos. Fabrício de Sousa Melo não tinha passagem pela polícia.