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Novo ataque na UPP da Nova Brasília mostra tráfico de drogas enraizado

Segundo PMs ouvidos pelo JB, a tendência é de os ataques se intensificarem

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Um tiro de fuzil no braço do soldado Vinícius Barbosa Ferreira, 29 anos, no fim da noite de segunda-feira (20), quando ele patrulhava a travessa José Bonifácio, na Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão (Zona Norte), voltou a chamar a atenção para os problemas enfrentados pelos policiais militares que atuam na localidade. Há 28 dias, também na noite de uma segunda-feira, a igualmente soldado Fabiana Aparecida de Souza, de 30 anos, foi morta durante um ataque à sede da UPP da Nova Brasília por traficantes fortemente armados. À época, o Jornal do Brasil havia destacado o medo e o pavor vividos na comunidade.

O policial, socorrido na UPA do Complexo do Alemão, recebeu os primeiros atendimentos médicos e,  em seguida, foi levado para o Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), onde o submeteram a uma cirurgia ortopédica. Ele passa bem. 

Lotado na UPP Nova Brasília, um policial militar garantiu que não existe tranquilidade para trabalhar em nenhuma das unidades já instaladas. Segundo ele, há uma tendência de intensificação dos ataques.

"O próprio Beltrame sabe, e diz isso, que o tráfico não acabou. Quem somos nós para contrariá-lo?", questionou ele, que depois comentou a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora. "Tiraram os empregos de traficantes, mas não ofereceram nada em troca. Ficamos nós expostos à raiva dos jovens sem perspectiva, esperança ou oportunidades. O tiro é quase um alerta, e a tendência é piorar".

Sentado em um banco na Praça do Conhecimento, a poucos metros do Beco do Capão, onde o soldado Ferreira foi atingido, o torneiro mecânico aposentado João Ferreira da Costa, 71 anos, afirmou que 'os mesmos meninos' que faziam o tráfico de drogas no Alemão continuam a agir.

"É a mesma rapaziada, só que com armas menores. Eles traficam nos mesmos lugares. Esse PM baleado ou não sabia onde pisava, ou passou lá na hora que não deveria ter passado", disse ele. "Nunca tive medo do tráfico, e nem terei hoje. Mas eles têm de sair daqui o quanto antes. Digo isso para quem quiser ver e ouvir. Ninguém mais suporta viver sob os olhares ameaçadores".

Na manhã de hoje (21), mais um ataque. PMs da UPP da Fazendinha trocaram tiros com traficantes que estavam na laje na Favela da Grota, no Complexo do Alemão. Desta vez ninguém foi alvejado. Um menor, que estaria com outros três comparsas, foi detido e encaminhado para a 22ª DP (Penha), onde o caso foi registrado.

"Ainda bem que não nos acertaram, mas é o que poderia ter ocorrido. Sorte minha estar vivo, assim como o colega deu sorte do tiro pegar no braço. Se vai no corpo, já era", disse um dos PMs que participou da troca de tiros, na porta da delegacia, ainda com a maconha e a cocaína apreendida nas mãos. "Nenhuma favela é tranquila para um policial, seja ela com UPP ou sem. Temos de estar sempre atentos, pois a bandidagem segue ativa. O tiro pode vir de qualquer lugar. O de hoje passou muito perto".

A Praça do Conhecimento, onde o confronto da noite de segunda-feira aconteceu, foi o mesmo local escolhido para a passagem da Bandeira Olímpica, semana passada. Na ocasião, a solenidade contou com as presenças do governador do Rio, Sérgio Cabral, dos medalhistas olímpicos Esquiva e Yamaguchi Falcão, do gari Renato Sorriso e do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman.