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Beltrame admite falha no projeto das UPPs e cobra ação social prometida

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O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, admitiu nesta segunda-feira (13) que o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) tem falhas e precisa ser ajustado. Após o Jornal do Brasil ter revelado que cerca de 600 policiais, formados pela 5ª Companhia Bravo em maio deste ano, não recebem o salário como policiais, mas como estagiários, Beltrame reconheceu a falha e a atribuiu a um erro burocrático/administrativo.

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Ao ser homenageado na Associação Comercial do Rio de Janeiro, Beltrame voltou a cobrar a ocupação social das comunidades carentes do Rio onde a polícia já desenvolve a política de pacificação. "Não se está fazendo milagre. Todo mundo sabe que, nessas áreas onde o Estado não está, ele tem que entrar. Todo mundo sabia disso, os senhores, as polícias, os políticos, os estudiosos. Só que não fizeram. Se passaram anos navegando na teoria, mas e o fazer? O fazer gera desgaste, e quem é político não quer desgaste, quer a primeira página do jornal, de preferência todos os dias"

Ao fazer um balanço da situação que encontrou na área da segurança pública ao assumir o cargo de secretário, em 2006, disse que “o Estado foi leniente e a sociedade foi tolerante também. O dinheiro desceu o morro e corrompeu, sim, as polícias. Mas os senhores façam um exercício de abstração e me digam se só a polícia é corrupta nesse país”, provocou o secretário, sob aplausos dos presentes. 

Ajustes na UPP

Ao comentar a necessidade de ajustes na UPP, explicou que "qualquer problema em relação a pagamento de qualquer produto oriundo de salário será fatalmente sanado. Tudo está orçado para ser pago", justificou o secretário. "É uma falha, temos que corrigi-la, mas em âmbito administrativo e burocrático. Não é nada como uma promessa que foi feita e não será cumprida. Esse processo (de pacificação) envolve hoje mais de seis mil policiais. Ajustes vão ter que ser feitos”, revelou, acrescentando que esteve na UPP do Vidigal, onde os policiais receberam na última semana os atrasados que não eram pagos há quatro meses.

No caso dos policiais da 5ª Companhia Bravo, que foram designados para a UPP do Alemão e a Ocupação Policial da Rocinha, são cerca de 600 soldados que continuam recebendo como se recrutas fossem. Ou seja, representam aproximadamente 10% do número de policiais que, segundo Beltrame, atuam na política da pacificação das comunidades da cidade. 

A diferença não é pequena. Um soldado recebe salário em torno de R$ 1,7 mil, enquanto um recruta tem soldo de R$ 1.040, que são reduzidos para menos de R$ 1 mil por conta dos descontos de praxe. No caso destes recrutas, eles ainda deixaram de receber o auxilio transporte e a gratificação prometida pela Prefeitura.  

Atualmente, a cidade do Rio conta com 21 UPPs, mais a ocupação da Rocinha. Beltrame confirmou que entregará as 40 unidades prometidas até 2014, mas negou qualquer movimento para acelerar o processo de instalação de novas sedes.

“Estamos preocupados com a qualidade do projeto. Não vou fazer uma UPP por mês. Tenho um plano de fazer 40, mas isso tem um tempo. O timming da inauguração de uma para outra quem vai me dar são as forças que estão no terreno. Não vamos acelerar nada, porque a preocupação é com a qualidade”, afirmou.

Homenagem

Na homenagem, Beltrame também recebeu a Medalha Barão de Mauá Grau Ouro, honraria máxima concedida pela Casa Mauá, durante o Almoço do Empresário. O secretário fez uma breve palestra sobre o trabalho que tem realizado desde que assumiu a pasta, em 2006. Segundo ele, seu cargo é o mais espinhoso dentre as carreiras de Estado.

Beltrame reconheceu que o Rio passou por 40 anos de negligência do Estado em relação à segurança pública, agravada pela ocupação desordenada dos territórios da cidade. Reafirmou que o projeto de pacificação não extinguirá o tráfico de drogas, mas não permitirá a combinação entre entorpecentes e violência.

De acordo com ele, “tudo que se faz hoje não é novo” e a única diferença de sua administração foi colocar em prática medidas efetivas. 

“Não há solução mágica. Ocupar é fácil, consolidar que é difícil. Não é a polícia entrando que vai acabar com a violência. As pessoas precisam ter suas demandas sociais minimamente atendidas”.