ASSINE
search button

Ato ecumênico relembra a Chacina da Candelária que completou 19 anos

Mortes violentas de crianças e jovens, porém, cresceu 346% nas últimas três décadas

Compartilhar

Uma missa, na Igreja da Candelária, e um ato ecumênico na própria igreja, relembrou nesta sexta-feira (27/07), os 19 anos da chacina da Candelária, ocorrida no dia 23 de julho de 1993. Centenas de pessoas, muitas crianças, parentes dos envolvidos no episódio, famílias e amigos de vítimas da violência no Rio e representantes de diversas religiões marcaram presença. Depois, os participantes caminharam pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia, onde houve apresentações de esquetes teatrais e brincadeiras.

Apesar de o drama da Chacina da Candelária ter abalado a cidade, a situação de violência enfrentada por crianças e jovens no Brasil apenas piorou. O índice de assassinatos de brasileiros com idades entre 0 e 19 anos cresceu 346% nos últimos 30 anos no Brasil. Os dados são do estudo Mapa da Violência 2012, que coloca o país como o quarto mais violento para essa faixa da população no mundo.

Presidente da Comissão Contra a Intolerância Religiosa (CCIR), o babalaô Ivanir dos Santos lembrou da fatídica sexta-feira quando foram mortos os sete meninos de rua. À época dirigente da Frente de Articulação da População Marginalizada, o representante do Candomblé afirmou que foi um dos primeiros a chegar ao local das execuções.

“Assim como naquela época, continuamos com o papel de chamar a atenção para este tipo de episódio. São quase duas décadas e nada mudou, muito pelo contrário. A situação piora cada dia mais”, lamentou o sacerdote de Ifá.

Membro do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças, o advogado Carlos Nicodemos classificou como ‘grave’ a situação de crianças e adolescentes no Brasil. Ex-presidente do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente do Estado do Rio de Janeiro, reclama da falta de ações governamentais para reverter o quadro.

“Não há política pública eficaz que modifique a situação desta população brasileira”, avaliou. “O Estado tem de incentivar campanhas de prevenção à violência e estimular a convivência familiar. Além disto, deve criar dispositivos que aumentem a responsabilização dos agressores. E, principalmente, mobilizar a população contra estas agressões”.

Patricia de Oliveira, irmã do principal sobrevivente, Wagner dos Santos, que após reconhecer os envolvidos refugiou-se na Suíça com receio de novos atentados, chamou a atenção sobre a grande quantidade de jovens desaparecidos no Rio de Janeiro. Desde 1993 ela participa da organização do ato em memória das vítimas da Chacina da Candelária.

“A gente sempre marca espaço porque, como a nossa população esquece muito rápido, buscamos não deixar cair no esquecimento. Esquecer é permitir e lembrar é resistir. É muito importante trazermos o debate para a população”, disse.