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Longe das câmeras, os problemas acumulam na região das novas UPPs

Governador Cabral discursava a poucos metros do esgoto a céu aberto

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Longe das câmeras que cobriam a inauguração das primeiras UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), no Complexo da Penha, Zona Norte da cidade, os sinais da ausência de serviços essenciais que o estado deve fornecer são aparentes:  a 300 metros do local onde o governador Sérgio Cabral discursava, na manhã desta quarta-feira(26), esgoto corria a céu aberto.

As novas UPPs fazem parte do plano do governo de até o final de julho inaugurar quatro destas unidades no complexo de favelas da Penha. Nesta quarta, a secretaria de Segurança Pública instalou uma na Chatuba e a segunda na Fé/Sereno. Cerca de 400 policiais militares substituirão as tropas do Exército que ocupam aquela região desde o fim de 2010.

Apesar da ocupação pelas Forças de Pacificação trazer a presença policial para áreas antes renegadas pelo Estado, muitos moradores não se mostravam muito entusiasmados com a nova experiência.

O  professor de artes marciais, Robson Relma, 37 anos, ensina MMA para 150 crianças na favela da Chatuba. Relma, que deu aulas para André Chatuba, campeão de diversos torneios de MMA, se mostra confiante com o projeto de pacificação. Ele, no entanto, crítica a falta de ações sociais na comunidade.

“A favela está mais tranquila para as crianças, sem aquela influência pesada nas ruas. Mas não adianta só trazer polícia, tem que colocar escolas, melhorar os serviços em geral”, sugere o lutador.

Uma das mais antigas moradoras do Morro da Fé, dona Balbina, de 78 anos reclama que nem serviços básicos como água, luz e coleta de lixo chegam à todos.  

Uma bomba leva a água da parte plana até as caixas d’água no alto do morro.  O problema, segundo os moradores, é que estas caixas não suportam a demanda de toda a comunidade, fazendo com que o abastecimento seja interrompido durante vários dias da semana.

“A gente tem água durante três ou quatro dias na semana, depois acaba e nós temos que ir até lá em baixo buscar”, reclama dona Balbina.

Algumas vielas acima de onde o governador inaugurava a 25ª UPP carioca, Paulo Cesar, 35 anos, mostrava a quem quisesse os diversos problemas que afetam moradores daquela área. 

Próximo da UPP, um canal de esgoto a céu aberto desce os becos da favela. Assoreado com entulho e lixo à mostra, o esgoto atraí  grande quantidade de mosquitos e outros insetos, oferecendo riscos para a saúde dos moradores e, principalmente, para as crianças.

“Quando chove, essa canaleta transborda e vai tudo parar nas casas”, conta.

Paulo Cesar mostra ainda o fundo de uma casa repleto de troncos de árvores. Segundo ele, cortaram as arvores que ameaçavam cair mas, além de o serviço ter sido feito 'de qualquer maneira', esqueceram de recolher os galhos cortados:

“Além das árvores eles acabaram quebrando um cano, e por isso algumas casas ainda estão sem água. Os troncos também estão aí jogados até hoje”, reclamou. 

(Reportagem de Renan Almeida)