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Catadores têm últimos dias de trabalho no Aterro de Gramacho

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Após  34 anos em funcionamento, o Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, recebe neste fim de semana o último despejo de lixo.  À meia-noite desta sexta-feira o aterro teve oficialmente suas atividades encerradas para os catadores, e os cerca de 1.600 trabalhadores fizeram suas últimas coletas.  No domingo, o aterro recebe o último caminhão carregado.

Às margens da Baía de Guanabara, Gramacho recebia todos os dias cerca de 10 mil toneladas de lixo que ameaçavam o ecossistema da região. O lixo agora será despejado na Central de Tratamento de Resíduos (CTR) de Seropédica. De acordo com a Prefeitura do Rio, a CTR é mais moderna e tem o solo triplamente impermeabilizado, reduzindo os danos ao meio ambiente.

Rico em histórias, os personagens do maior aterro sanitário da América Latina serviram de inspiração para filmes, documentários, e atualmente uma novela. Em Gramacho, os catadores trabalhavam separando os objetos recicláveis. Em Seropédica esse trabalho não vai mais existir.

“Na CTR não teremos a figura do catador, que está sendo indenizado para que busque uma nova atividade”, explicou o secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório.

Cerca de 250 catadores ainda estavam no lixão nesta quinta-feira. Muitos trabalham há décadas e lamentaram o fechamento. “Muito triste, a maioria trabalha junto há muitos anos. Lá em Seropédica não vão reciclar nada, é uma pena”, disse o catador Sílvio da Silva Melo, de 40 anos,  há 18 anos trabalhando no lixão.

Pai de três filhos, Sílvio queixa-se, pois,  além de perder o salário, pago pela empresa de coleta, também vai perder o seu bico na Feira de São Cristóvão.

“Na feira eu vendia os celulares, relógios, tênis, tudo de diferente que achava”, lamenta.

Atualmente o aterro está sendo retratado em uma novela. Flavio Basílio, 48 anos, conta que a realidade no lixão é bem diferente da mostrada.

“Não tem nada a ver. Na novela parece que os catadores fazem um trabalho escravo. Trabalhei 12 anos em cozinha, de carteira assinada. Mas vim trabalhar aqui e estou há 20 anos”, afirmou.

O catador Paulo Pereira, 34 anos, disse ficar triste, mas reconhece que é hora de abandonar o lixão e buscar outra atividade.

 “Era muito perigoso. Muita gente se machucou nessa sujeira e acabou perdendo as pernas, os pés. A partir de agora vou trabalhar fazendo mudanças. Meu primo tem um caminhão e vamos trabalhar juntos”, disse Paulo.

A Secretaria de Conservação e Serviços Públicos informou que os recursos para indenização dos trabalhadores estarão disponíveis a partir desta sexta-feira. Todos os 1.600 catadores cadastrados serão indenizados com cerca de R$ 14 mil cada um.

A Prefeitura do Rio também anunciou uma parceria com a Central Única das Favelas (Cufa) para acompanhamento e capacitação profissional dos catadores após o fechamento do lixão.