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Catadores de Gramacho se reúnem por aprovação de fundo de apoio à categoria 

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Cerca de mil catadores que atuam no Aterro Controlado de Gramacho,em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, reuniram-se, hoje (31/03), em assembleia, para discutir e aprovar as regras de utilização dos recursos do Fundo de Apoio ao Catador de Gramacho, de R$ 1 milhão e 400 mil por ano. O valor será pago pela empresa Novo Gramacho, que explora o gás metano captado no aterro.

A assembleia é uma iniciativa do Conselho de Liderança dos Catadores de Gramacho, com apoio da Secretaria de Estado do Ambiente e da Prefeitura de Duque de Caxias e foi realizada no Ciep Ministro Hermes Lima, em Jardim Gramacho, Duque de Caxias.

Dentre as regras discutidas pela categoria para aplicação dos recursos estão a priorização do direito aos recursos de pessoas que adquiriram deficiências em razão da catação e idosos. Outro ponto debatido pelos catadores é a forma de como os recursos do fundo poderão ser utilizados, se para investir em um negócio próprio ou como forma de renda para o catador reorganizar sua vida.

Jorge Pinheiro, da Secretaria de Estado do Ambiente, ressaltou a importância da união dos catadores para definir o futuro da categoria. “É a primeira vez que os mais de mil catadores de Gramacho se reuniram para discutir o futuro deles”, disse ele, acrescentando que, há cerca de um ano, a Secretaria de Estado do Ambiente assumiu o compromisso com os catadores de Gramacho: buscar parcerias governamentais e não governamentais para preservar os catadores e suas famílias quando do fechamento do aterro controlado, previsto para junho deste ano, para que não fiquem sem renda.

Para Alexandre Freitas, do Conselho de Lideranças dos Catadores de Gramacho e coordenador do Movimento dos Catadores do Estado do Rio de Janeiro, a maior preocupação é com relação aos idosos que continuam atuando no aterro controlado de Gramacho. “Defendemos, por exemplo, que os catadores idosos e os que possuam deficiência recebam os recursos de forma integral. A nossa preocupação é garantir a renda para os idosos que já não tem mais condições de continuaram trabalhando como catadores”, explicou ele.

Em março deste ano, durante reunião com o representante da Secretaria-Geral da Presidência da República, Diogo Santana, para debater o futuro dos catadores, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, anunciou que a Caixa Econômica Federal vai adiantar dez anos de recursos – cerca de R$ 14 milhões – para o Fundo de Apoio ao Catador de Gramacho.

Na reunião, também ficou decidido que, em 15 de maio, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, virá ao Rio de Janeiro para oficializar a criação de um pacto político em prol dos catadores de Gramacho, que envolverá os governos federal, estadual e municipal, a sociedade civil e a iniciativa privada e detalhar as tarefas de cada um.

Histórias de luta

De expressão sofrida, Maria da Penha Amaro de Oliveira, 64 anos, mostra nas mãos e nos pés, as feridas e algumas cicatrizes resultados de mais de 30 anos trabalhando como catadora no aterro de Gramacho. Com baixíssima escolaridade, Maria da Penha diz estar preocupada com seu futuro, com o fechamento do aterro controlado de Gramacho. “Peço ao governo que nos ajude, pois, assim como eu, tem muito idoso que trabalha lá que não tem condição mais de continuar nesse trabalho, mas que precisa para sobreviver. Tenho medo, mas ainda tenho esperança”, disse ela.

Ao falar um pouco de sua vida, Maria da Penha relata que poucas vezes na vida conseguiu fazer as três refeições do dia. “É que o dinheiro, às vezes não dá. Quando almoço, não janto, num dia. No outro, não almoço, mas janto”, conta ela, relembrando também da época que dormia no lixão, em um colchão que encontrou no meio do lixo. “Foram dias muito difíceis, mas agora consegui um cantinho pra morar”, disse ela.

Alzira Severina da Silva, de 87 anos, é uma das catadoras mais antigas que atuam no aterro controlado de Gramacho. Começou a trabalhar nesse local há mais de 30 anos. Ela também disse estar preocupada com o seu futuro, depois que o aterro controlado de Gramacho encerrar suas atividades. “Só sei fazer isso: catar. Temo pelo meu futuro, pois preciso continuar trabalhando”, disse ela, que não é alfabetizada e mãe de nove filhos.