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Moradores do Complexo do Alemão temem PM no lugar do Exército

Policiais substituíram homens da Força de Pacificação na Fazendinha e Nova Brasília, que terão UPPs

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Os cerca de 750 policiais militares que ocuparam, na manhã desta terça-feira, as favelas da Fazendinha e Nova Brasília, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, carregavam, além de fardas e armas, o peso dos anos de ação policial na região, que era controlada pelo tráfico de drogas. Os frequentes tiroteios, revistas agressivas, abusos de poder e violência praticados por homens do estado até a ocupação da área pelo Exército, em novembro de 2010, voltam na memória dos moradores das duas comunidades, no instante em que a Secretaria de Segurança Pública dá início ao processo de substituição dos homens da Força de Pacificação por PMs, para instalar as duas primeiras Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do conjunto de favelas.

“É difícil acreditar que a mesma polícia, que agredia e xingava antes da ocupação, será simpática e amistosa agora. Não dá para confiar”, lamentou Marcel Pires Lima, de 38 anos, dono de uma mercearia na Fazendinha.

Com uma mensagem distribuída pela Seseg nas mãos, onde se lia "O Bope está em sua comunidade", a dona de casa Michele dos Santos, de 24 anos, disse que, mesmo que soubesse de alguma informação sobre os criminosos que atuavam no Complexo do Alemão, seria impossível denunciar os traficantes.

“Ainda vivemos com muito medo por aqui”, disse ela. “Na época dos traficantes, a violência era gigante. Mas, mesmo assim, piorava muito se a polícia estivesse por perto. Eles podem voltar a qualquer momento. Vai que depois da Copa e da Olimpíada o governo desiste das UPPs. Como ficamos?”

O major Edson Raimundo, que comandará a UPP da Favela Nova Brasília, e um outro oficial, ainda não definido, que será o responsável pela unidade da Fazendinha, assumirão os postos assim que a Seseg receber o ‘nada a opor’ do Batalhão de Operações Especiais e do Batalhão de Choque, que ocuparão as favelas junto da Companhia de Cães, Estado Maior Geral (EMG), Grupamento Especial de Salvamento e Ações de Resgate (Gesar) e 300 policiais recém-formados que se apresentaram no 16ºBPM (Olaria).

“Essas pessoas que têm interesses financeiros e criminosos podem reagir contra a UPP, mas a policia não vai sair daqui”, disse, sobre possíveis represálias, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. “Os resultados das outras unidades são animadores, mas ainda não se venceu nada. Quem vai avaliar quando a UPP definitiva chega ao Alemão são o Bope e o Choque. O Rio tem problemas na segurança há décadas, e isso não será resolvido de uma hora para outra. Ainda há um longo caminho pela frente para ser percorrido".

Prisões e apreensões

De acordo com o chefe da Coordenadoria de Comunicação Social da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, o principal objetivo da ação desta terça-feira foi realizar uma varredura no Morro da Fazendinha e na Favela Nova Brasília para prender traficantes que ainda estejam atuando ou escondidos. Ao todo, foram presos dois homens, 1.156 cápsulas de cocaína, 110 pedras de crack, e farta quantidade de maconha foram apreendidos.

Mais cedo, um homem suspeito de tráfico de drogas foi preso por PMs no Morro do Palácio, em Niterói, na Região Metropolitana. Renato Santana de Almeida foi capturado com uma metralhadora, drogas e uma pistola. Ele seria foragido do Complexo do Alemão.

A substituição de tropas do Exército por efetivos do Bope e do BPChoque continuará de forma gradual até junho, quando toda a região deverá estar sob o controle da Polícia Militar.  

A operação desta terça-feira foi acompanhada pela Corregedoria da Polícia Militar.