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Casamento homoafetivo quebra paradigmas com festança no Rio

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No dia em que Ana Beatriz Lacerda dos Santos sentou com sua mãe para conversar sobre sua opção sexual, ouviu de resposta um sonoro “eu já sabia”. Apesar de ter aceitado super bem, Angela Maria lamentou apenas não poder levar sua filha ao altar, como sempre sonhara. E foi exatamente esta vontade latente da mãe que transformou o casamento de Ana Beatriz com Aline Cury de um simples jantar para os familiares em uma grande festa para mais de 400 convidados. A festa, que, na medida do possível, seguirá os padrões tradicionais, vai acontecer independentemente do pedido de união civil, que já foi indeferido no cartório, mas seguirá como apelação ao Superior Tribunal de Justiça.

“Esta questão na Justiça não vai nos desanimar. Quando sair a decisão, a gente comemora de novo, mas não vamos desistir”, afirma Ana Beatriz.

O casamento não era o sonho de nenhuma das duas, mas a vontade começou a crescer depois que elas começaram a namorar, há dois anos e meio. Hoje, ambas se consideram casadas e compartilham do desejo de adquirir os direitos da união civil na Justiça, pois não se contentam com a união estável.

“Me sinto casada, me considero assim. Quero poder marcar ‘casada’ nas fichas e formulários, não gosto de marcar a opção ‘solteira’”, diz Aline.

Enquanto a decisão não sai, Aline, Ana Beatriz e sua mãe, Angela Maria, estão totalmente envolvidas com a festança, que acontece no próximo dia 21. Elas contam que as pessoas responsáveis pelos preparativos se animaram tanto com o casamento homoafetivo que criaram coisas novas, já que nunca tinham trabalhado com nada parecido.

“Inicialmente, as pessoas faziam confusão, perguntavam se a gente ia casar juntas, o nome dos noivos. Não entendiam que nós íamos casar uma com a outra. Mas, quando a ficha caiu, todos foram muito receptivos e se propuseram a criar coisas novas, já que nunca tinham feito um casamento entre duas mulheres”, conta Aline.

Os bem casados, os vestidos de noiva, o biscuit em cima do bolo, tudo seguirá as tradições do ritual. Mas, claro, com um toque moderno.  Os bonequinhos do bolo, por exemplo, serão duas noivas e três cachorrinhas, as três buldogues que são consideradas como filhas pelo casal. Uma das grandes preocupações da festa é que as noivas não vejam uma o vestido da outra, apesar de eles estarem sendo confeccionados pela mesma estilista. No dia da festa, Aline e Ana Beatriz vão se preparar juntas, mas a casa de festas já providenciou uma divisória no quarto da noiva para a hora da troca do vestido.

A grande cerimônia foge dos padrões não só pela opção sexual das noivas, mas porque, normalmente, os casais do mesmo sexo optam por uma reunião mais íntima. Aline, cuja família vem do interior do estado para participar da festa, espera que as pessoas comecem a achar mais normal a união entre mulheres.

“É uma situação para se comemorar, sem vergonha. Nós não queremos agredir ninguém, não queremos causar polêmica, queremos apenas realizar nosso desejo e ser feliz”, explica.

Preconceitos

Elas contam que nunca sofreram preconceito, mas percebem que é só dar as mãos num lugar público que os olhares viram imediatamente para elas. Ana Beatriz avalia a sociedade como ainda muito preconceituosa, principalmente quando se fala em ter filhos. Para Aline, duas mulheres de mãos dadas incomodam muito mais às pessoas que duas crianças ‘se agarrando’ num banco de shopping.

“A orientação sexual de uma pessoa não faz dela melhor nem pior do que ninguém. Mas esperamos que estes avanços na Justiça e atitudes como a nossa mudem a visão das pessoas em relação ao casamento homoafetivo. Ninguém tem menos caráter ou menos índole por ser gay”, observa Aline.