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Empresa que fazia obras em dois andares lamenta queda de prédio no Rio 

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A empresa Tecnologia Organizacional, que ocupava seis dos 20 andares do prédio número 44 da Avenida Treze de Maio, um dos três que caíram na noite de quarta-feira no Centro histórico do Rio de Janeiro, divulgou nota na quinta-feira na qual lamenta o ocorrido. O comunicado, dirigido a colaboradores, omite as obras que a empresa mantinha no terceiro e no nono andares do edifício e que, segundo o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), eram irregulares.

"Este comunicado chega num momento de profunda tristeza para a comunidade da TO. Lamentamos profundamente as perdas constatadas até este momento e nos solidarizamos diante dos fatos. Nesse momento estamos focados em dar todo o suporte possível às famílias dos desaparecidos. Mas também estamos nos preparando para trabalhar em contingência e restabelecer o mais rápido possível nossa estrutura administrativa", discorre a nota, sem fazer menção às obras.

O Crea-RJ descartou a possibilidade de o desabamento ter sido provocado por um vazamento de gás seguido de explosão. O engenheiro civil especializado em estrutura Antônio Eulálio enfatizou que as obras no local eram irregulares. "Essas obras devem ter sido feitas por leigos. Isso é considerado pelo Crea como exercício ilegal da profissão. Só que esse exercício é punido como contravenção, quando deveria ser punido como crime. Mas isso tem que mudar no código penal. Não é o Crea que muda isso", disse. 

Eulálio disse que o prédio caiu de cima para baixo e que a entidade trabalha com três hipóteses, todas ligadas a problemas na estrutura do edifício de 20 andares, o primeiro que desabou e caiu por cima dos demais.

Para o especialista, como a região onde estão os prédios é muito próxima do mar e as construções são antigas, pode ter havido corrosão e infiltração na última laje, provocando o desabamento em efeito cascata; a outra hipótese envolveria as reformas nos terceiro e nono andares, que poderiam ter levado ao comprometimento das vigas de sustentação; e a última possibilidade, também em função das obras, seria o excesso de peso nos andares devido ao acúmulo de material, como cimento, areia e pisos.

O presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, afirmou que a última Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) referente ao prédio é de 2008. A ART é um documento por meio do qual o profissional registra as atividades técnicas solicitadas no contrato para a obra onde está trabalhando. Guerreiro explica que não é de responsabilidade do Crea fiscalizar laudos de obra, mas a fiscalização do exercício profissional.

"Quando o profissional não faz a ART ele está errando e a obra está ilegal. Mas às vezes o profissional que faz a obra não é do CREA, nem é engenheiro, nem nada. Aí nós não podemos fazer nada. A última ART que encontramos para aquele endereço datava de 2008", diz ele.

Caso o profissional responsável pela obra seja do Crea, ele terá a chance de se defender, mas provavelmente será punido pelo código de ética e, dependendo do tamanho de sua responsabilidade, poderá perder o credenciamento e o direito de continuar trabalhando. Guerreiro afirma que ainda não se sabe quem seria o responsável pela obra.

Sobre as prováveis causas do desabamento, Guerreiro garante que as probabilidades de vazamento de gás e de fragilidade do terreno são pequenas. "O ponto comum que a maioria dos especialistas e analistas estão convergindo é que essas obras muito provavelmente acabaram mexendo em alguma parte estrutural do prédio. Mas ainda não existe provas para falar sobre isso, é uma questão de probabilidade. Tem gente falando sobre explosão de gás, que o terreno onde o prédio foi construído era frágil, mas essas probabilidades são muito menores", disse.

O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Rio de Janeiro, Sydnei Menezes, disse que não havia sinais de que as edificações pudessem cair. "O prédio não teve nenhum movimento pendular, não inclinou para cima ou para os lados. Ele simplesmente desmoronou e levou com ele os outros prédios, colados em divisa. Houve uma ruptura violenta, um colapso fulminante da estrutura. Esse desabamento foi um fato inédito. A maneira como ocorreu, sob o ponto de vista técnico, é realmente algo assustador."

Menezes considerou que, se a causa tivesse sido vazamento de gás, uma possibilidade praticamente descartada, haveria uma explosão muito violenta, com muito barulho, o que não ocorreu. Quanto à possibilidade de a reforma ter abalado a edificação, ele preferiu ser cauteloso. "Quando se mexe nas estruturas de um prédio para reformas internas, a própria estrutura reage, dá sintomas de fadiga. Você vê, por exemplo, trincas, portas emperradas, janelas fora do prumo, vidros quebrados. Há todo um prenúncio dos sintomas de um colapso estrutural, e disso também não se tem registro", afirmou.

Com relação a uma instabilidade do terreno onde os prédios foram construídos, uma área de charco que foi aterrada, o arquiteto explicou que a hipótese é improvável. "Os demais prédios do entorno não foram abalados, o próprio Theatro Municipal, que é uma obra iniciada no governo do prefeito Pereira Passos, em 1904, não sofreu nenhum abalo". Ele também não dá crédito à tese de que o desabamento tenha sido consequência de obras do metrô feitas na década de 1970 (a Linha 1 passa sob a avenida 13 de Maio).

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), reiterou que a causa do acidente só poderá ser determinada pela perícia que está sendo feita por técnicos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli.