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Falsa psicóloga disse que sofre de déficit de atenção

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A proprietária da clínica Cenacomp, especializada no tratamento de crianças e jovens autistas, declarou nesta quarta-feira (28) que não concluiu o curso de Psicologia porque sofre de déficit de atenção. 

Beatriz da Silva Cunha disse, no entanto, que o distúrbio não prejudicou a sua capacidade intelectual para atender crianças com necessidades especiais. 

Acusada dos crimes de estelionato, propaganda enganosa e de falsidade ideológica, ela foi interrogada pelo juiz Alcides da Fonseca Neto, da 11ª Vara Criminal da Capital. Segundo a ré, o delito cometido por ela foi exercício ilegal da profissão.

“Eu errei. A minha fama foi construída com bons resultados que obtive com várias crianças e com minha especialização curricular”, afirmou a ré ao confessar que cursou até o 8º período da faculdade de Psicologia. Ela disse também que a ausência do diploma sempre a incomodava. “Eu dizia que era psicóloga, mas continuo incomodada com o fato de não ter conseguido concluir o curso. Ninguém sabia que eu não era psicóloga. Eu escondia esta informação de todas as pessoas, inclusive de mim mesmo”, ressaltou.

A acusada explicou que sua habilitação em autismo foi adquirida no período em que foi estagiária e funcionária contratada do Centro de Desenvolvimento Humaitá, além dos treinamentos e cursos com especialistas brasileiros e estrangeiros. Ela citou também a participação em congressos nos Estados Unidos e México. “O meu hiper foco era tratar de crianças especiais. A prática não veio da faculdade. Eu comecei a procurar fora”, frisou.

De acordo com os autos, Beatriz Cunha se intitulava como psicóloga,  terapeuta comportamental e pós-graduada em Psicologia Médica pela Santa Casa, chegando a ministrar palestras e cursos. Além do atendimento diário às crianças e jovens, a sua clínica na Rua Sorocaba, em Botafogo, Zona Sul do Rio, mantinha convênios com a Marinha e a Universidade da Força Aérea.

Quanto às declarações de pais de que a acusada não emitia recibos pelos serviços prestados, ela negou a acusação. Beatriz disse que tinha várias funções na clínica e que os responsáveis só se lembravam dos recibos no final do ano ou durante o período de declaração de imposto de renda.

Entre os presentes à audiência, que durou cerca de duas horas, estavam ex-funcionários da clínica, familiares da ré e pais de crianças e adolescentes pacientes da clínica. A delegada de polícia Candisa Andrea Mandim, cujo filho de oito anos foi atendido na clínica, acompanhou o interrogatório. Ela foi a primeira a desconfiar de Beatriz, quando pediu um recibo para a declaração do imposto de renda. O documento foi emitido com registro de outra pessoa. Testemunha nos autos, a delegada contou que pagou R$ 800 apenas pela primeira avaliação comportamental do filho e mais R$ 50 mil pelo período de dez meses, entre março a abril de 2010, referentes às três horas diárias de atendimento da criança. Segundo ela, ao invés de evoluir, o menino regrediu. “Eu procurei a Delegacia do Consumidor, mas conforme fui falando com outros pais, vi que havia coisas mais graves”, afirmou.

O processo também tem como réu o marido da falsa psicóloga, Nelson Antunes de Farias, que foi interrogado na semana passada. Ao final da audiência, o juiz Alcides Neto determinou a remessa dos autos ao Ministério Público estadual para alegações finais e, em seguida, para a defesa dos réus. Após, ele vai proferir a sentença.