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Condutor do bonde de Santa Teresa ignorou ida à oficina antes do acidente 

Bonde já tinha passado por manutenção dois dias antes do acidente

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O secretário de Transportes do Rio de Janeiro, Júlio Lopes, convocou, na tarde desta segunda-feira, uma coletiva de imprensa para explicar o acidente com um bonde em Santa Teresa. No incidente, cinco pessoas morreram. 

De acordo com Júlio Lopes, o condutor Nelson Corrêa deveria estar levando o bonde para a manutenção no momento do acidente já que o veículo tinha acado de colidir com um ônibus. Dois dias antes da tragédia, o mesmo bonde já tinha passado por uma manutenção. A razão pela qual Nelson não foi para a oficina ainda é desconhecida. 

"Não queremos culpar nem acusar ninguém", disse Júlio Lopes. " O Nelson era um funcionário exemplar, conhecido entre os colegas como 'tartaruga', por dirigir devagar. Nossa grande dúvida é saber por quê ele não foi para a oficina. Quem vai dizer a razão disso será a perícia".

Membros da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) estavam presentes na Secretaria de Transportes e tentaram começar uma manifestação durante a coletiva de imprensa. Contidos pelos seguranças, eles se revoltaram com a tentativa de culpar o condutor pelo acidente. 

"Todo mundo que frequenta Santa Teresa sabe como os pontos ficam superlotados. Com certeza, o Nelson ficou constrangido pelas filas enormes e pela demora de 40 minutos por um bonde. Ele deve ter passado pelos pontos lotados e decidiu voltar", apontou Álvaro Braga, historiador e membro da AMAST. "Não pensei que eles fossem adotar a tática de 'culpar o morto'". 

Júlio Lopes também apontou a superlotação dos veículos como principal causa dos acidentes e acusou os frequentadores do bonde de forçar a entrada, mesmo sob protestos dos condutores. Questionado sobre as razões da lotação, ele admitiu que o número de bondes não era o suficiente para atender a demanda. 

"Estamos falando de bondes criados há mais de 100 anos, todos feitos para atender a uma realidade completamente diferente. E é difícil mordenizá-los, já que os trilhos foram especificamente para requisitos daquela época", explicou o secretário. "O número de bondes realmente não era o suficiente para atender o bairro". 

ACP ignorada

Os membros da Amast também reclamaram de a Secretaria de Transportes ter recorrido de uma ação civil pública (ACP) do Ministério Público que pedia a modernização dos bondes para garantir a segurança dos passageiros. A justiça estadual condenou a Secretaria a cumprir a ação, que levou o processo para a esfera federal.

"Plagiando o escritor, tudo isso foi a crônica de uma tragédia anunciada. Eles chegaram ao ponto de recorrer de uma ação que pedia apenas a modernização dos veículos, arrastando ainda mais o processo", disse Álvaro Braga, indignado. "Honestamente, não consigo entender como o governador Sérgio Cabral mantém o Júlio Lopes como secretário de Transportes após essas seis mortes no bondinho em menos de um ano. O Júlio Lopes é dono de duas escolas e formado em marketing. Ele não entende nada de transportes e já deveria ter sido exonerado há muito tempo".