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Bondinho de Santa Teresa torna-se transporte arriscado para cariocas

Em vistoria, técnicos do Conselho Regional de Engenharia detectaram problemas de manutenção ao longo do trajeto dos tradicionais bondes 

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Apesar da beleza do transporte sobre trilhos em toda a extensão do bairro de Santa Teresa - último reduto dos bondinhos no Rio - o meio de transporte parece ter se tornado arriscado, segundo moradores ouvidos pelo Jornal do Brasil. Na última sexta-feira (24), um turista francês despencou de um dos cinco bondes, no trajeto acima dos Arcos da Lapa, e acabou morto. Mas os acidentes envolvendo o antigo meio de transporte não param por aí.

A doceira Severina dos Santos, 55 anos, que vive no bairro há 31, conta dois dos piores acidentes que já presenciou.

"O meu cumpadre perdeu metade do pé durante um acidente que sofreu ao descer do bonde. Ele desembarcou para resgatar um chinelo que havia deixado cair e acabou com um dos pés esmagado no trilho. Não sabemos o que aconteceu, talvez tenha sido algum problema no freio do bonde", recorda-se. "Uma vizinha, que estava de pé no bonde, morreu esmagada após uma colisão entre um ônibus e o bonde. Temos que ter muita atenção. Se der bobeira, é acidente na certa, porque as ruas de Santa Teresa são muito estreitas".

Disputa nas ruas

A disputa de espaço entre bondinhos, carros de passeio, ônibus (duas linhas fazem o transporte no bairro) e kombis é perigosa. Há grande dificuldade, inclusive, para atravessar as ruas. O grande número de carros estacionados nas calçadas também contribui para o agravo do problema.

"Tem que desviar dos bondes e dos carros estacionados o tempo todo para não bater", avisa o taxista Geraldo Aguiar, 52 anos. 

Procurado pelo Jornal do Brasil, o coordenador da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Crea - RJ, Luiz Antônio Consenza, criticou a manutenção da Secretaria de Transportes dada aos bondes e ao trajeto percorrido por eles.

"No caso da morte do turista francês, o acidente foi por pura falta de manutenção no gradil. Não restam dúvidas. As grades tem grandes buracos, e não deveriam estar assim. O último acidente de grande repercussão antes deste (quando uma professora foi atropelada e morta) foi por um problema na localização da caixa de freios. Deve-se dar mais atenção ao transporte sobre trilhos em Santa Teresa", atacou.

Sobre a confusão do trânsito no bairro, Consenza acha que está na hora da Prefeitura do Rio intervir.

"Já que o prefeito faz tantas ações para organizar a cidade, por que não fazer o mesmo em Santa Teresa?", desafiou o engenheiro.  

Secretaria: passageiros são alertados sobre riscos de trafegar no estribo 

Procurada pelo Jornal do Brasil, a Secretaria do Estado de Transportes informou que o reparo das grades que cercam o trajeto do bonde nos Arcos da Lapa já está sendo feito. Em nota, o órgão explicou que avisos sobre o risco de se trafegar nos estribos (beiradas laterais dos bondes) é feito sistematicamente por funcionários.

Além disso, como medida de segurança, os bondes circulariam a  5 km/h ao passarem sobre os Arcos da Lapa. Segundo a Secretaria, não seria possível fechar as laterais dos bondes, já que  eles são tombados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.

O mesmo acontece com os Arcos. Tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Cultural, não pode receber um muros ao longo da via férrea prevenindo acidentes.