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Pesquisa promove incentivo à leitura no combate à evasão escolar

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Ler o mundo para ser capaz de transformar a realidade. Na opinião do educador e pedagogo Paulo Freire, estimular a sede pelo conhecimento seria a capacidade mais importante que o ensino poderia proporcionar aos alunos. Entretanto, dados da pesquisa Juventude e Políticas Sociais no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostram que a educação no Brasil tem seguido um caminho inverso: há, no País, cerca de 1,5 milhão de analfabetos entre 15 e 29 anos; apenas 47,9% dos jovens brasileiros cursam o ensino médio e somente 13% da população do País chegam à educação superior.

Diante desse quadro, os professores Eliana Yunes e Luiz Antonio Coelho, coordenadores da Cátedra Unesco de Leitura, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), pensaram em uma forma de tornar o ensino mais interessante para os alunos, diminuindo a evasão escolar. Para isso, desenvolveram a pesquisa “Evasão escolar, desalento, marginalidade: rompendo o círculo vicioso e desagregador da juventude brasileira através da formação do professor leitor”. O estudo é apoiado pelo edital Pensa Rio – Apoio ao Estudo de Temas Relevantes e Estratégicos para o Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ.

Com o projeto, professores do ensino médio serão selecionados em diferentes regiões do estado e receberão incentivo e formação, presencial e a distância, para desenvolver e estimular o exercício da leitura, influenciando diretamente seus alunos.

- O objetivo desse trabalho é mudar o professor para salvar o estudante - afirma Eliana Yunes, que, junto com sua equipe, pretende proporcionar aos professores condições de se renovarem como mediadores de leitura nas salas de aula.

- Para que eles possam, com segurança, não apenas aceitar a simples repetição do conteúdo do currículo escolar, mas criar uma realidade transformadora na vida do aluno - complementa.

Nessa primeira fase, o grupo da Cátedra está realizando uma pesquisa de campo com professores para avaliar práticas de leitura e o perfil do grupo docente do ensino médio do Rio de Janeiro. Em paralelo, estão formando a equipe que será responsável pela estruturação do curso de ensino a distância que será oferecido aos professores selecionados.

Uma das coordenadoras do projeto, Nilza Rezende destaca que, no treinamento preparado pelo grupo da Cátedra, esse estímulo não visa apenas à leitura do que está escrito.

- Queremos habilitar o cidadão a compreender, articular e ser capaz de ler o mundo, as pessoas e a si mesmo. A formação de um leitor, na verdade, é um processo de abrir os olhos para o mundo e perceber e compreender que tudo a sua volta está comunicando alguma coisa. O uso inteligente e consciente da leitura neste sentido mais amplo é um modo de se ter poder porque a compreensão pode fazer com que o cidadão releia o seu passado e seja capaz de mudar o seu futuro - analisa Eliana.

Dentro deste conceito, a equipe da Cátedra quer mostrar aos professores que todas as matérias apresentadas aos alunos no currículo escolar, mesmo que aparentemente diferentes, são ligadas entre si.

- É necessário eliminar o estigma de que artes e literatura são o enfeite do bolo; na verdade, elas são o fermento da massa. Podemos mostrar a um estudante o quanto de história pode haver em um bom filme em cartaz no cinema. Quando admiramos um quadro, estamos também, diante de um texto.

Ela esclarece seu ponto de vista com um exemplo da pintura de Johannes Vermeer: Moça com brinco de pérola serviu como inspiração para a criação de um romance e, posteriormente, de um filme, com títulos homônimos ao quadro.

- Neste caso, temos três leituras diferentes de um mesmo quadro, cada uma com suas textualidades. Para compreendê-las, é necessário saber ler além das legendas na tela do cinema - completa.

A Cátedra Unesco realiza projetos em todo o país. Um deles está sendo realizado em dez estados brasileiros incluindo o Rio de Janeiro: o projeto Agentes de Leitura, desenvolvido em conjunto com o Ministério da Cultura, é similar ao trabalho com os professores, mas está voltado a jovens entre 16 e 29 anos, que são estimulados a se tornarem agentes de leitura. Depois da seleção e formação, eles receberão uma bolsa do governo federal para dedicar 25 horas por semana à leitura em hospitais, bibliotecas e casas de famílias.

- Este trabalho é mais uma prova de que o incentivo bem estruturado pode mudar uma realidade - conclui Nilza Rezende.

Fonte: Faperj - Danielle Kiffer