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Shanghai, parque mais antigo do Brasil, nunca registrou acidente

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Caio de Menezes , Jornal do Brasil

RIO - Enquanto o Terra Encantada, na Barra, vive seu inferno astral após a morte da cozinheira Heydiaria Ribeiro, que caiu da montanha-russa no dia 19, o parque de diversões mais antigo do Brasil continua soberano na Zona Norte. Aberto desde 1934, o Parque Shanghai, em toda sua existência, manteve-se incólume aos acidentes.

Nelson Waller, filho de um dos sócios fundadores do negócio, revela os segredos para atingir esse invejável prestígio.

A manutenção é feita diariamente e intensificada de segunda a sexta-feira à tarde, quando estamos fechados ao público.

O Shanghai, que inicialmente funcionava no terreno onde foi construído o Aeroporto Santos Dumont, no Flamengo (Zona Sul), mudou-se para a Quinta da Boa Vista e, em 1966, estabeleceu-se na Penha (Zona Norte). No novo endereço, com 23 mil m² e aos pés da Igreja da Penha, foi construída uma oficina.

Além de um engenheiro responsável que, constantemente, visita o parque, temos torneiros e mecânicos trabalhando aqui diariamente frisa o gerente, Luiz Carlos Lima. Não podemos fechar por culpa de um parafuso ou pino defeituosos. Por isso, fazemos os que precisamos aqui mesmo.

Luiz fala com orgulho que todas as instalações do parque foram aprovadas pela Diretoria-Geral de Diversões Públicas (DGDP) do Corpo de Bombeiros, em vistoria feita na última terça-feira.

Atrações

Com entrada franca, o parque recebe cerca de mil visitantes por fim de semana, que pagam R$ 3 por cada atração ou um preço fixo de R$ 10 às sextas-feiras R$ 15 aos sábados, domingos e feriados para andar em todos os brinquedos quantas vezes quiserem.

De acordo com Nelson, os brinquedos mais procurados são as duas montanhas-russas e o Enterprise, um brinquedo que gira e proporciona inclinação de até 75º.

Não tem jeito. Assim que as crianças entram, correm e formam fila para essas atrações conta ele, que brincou muito no parque do pai, o fundador, quando criança.

Violência na Penha quase leva o parque à falência

Situado entre os dois maiores complexos de favelas da cidade Alemão e Penha, que somam 18 comunidades e cerca de 430 mil moradores o Parque Shanghai já sofreu os efeitos da criminalidade que domina o tráfico de drogas em seu entorno.

De acordo com o proprietário do Shanghai, Nelson Waller, entre 2006 e 2008, o parque passou por um período em que a frequência foi muito inferior a média atual.

Recebíamos menos de 300 pessoas por fim de semana conta. Tive que reduzir o número de funcionários. A Penha era sinônimo de violência em todo o Rio.

O retorno dos bons ventos teve início há pouco tempo.

Conseguimos trazer a classe média de volta para o parque, que sempre foi um ponto de encontro da população da Penha, Bonsucesso, Olaria etc analisa Luiz Carlos Lima, o gerente. Estamos em nosso melhor momento. O parque é utilizado para festas de aniversário. Neste domingo, por exemplo, teremos cinco comemorações aqui disse ele.

Os tempos prometem ser ainda melhores para o Parque Shanghai e para os moradores da região. Em abril passado, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, declarou que pretende instalar Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nos dois complexos de favelas. Para isso, segundo ele, será empregado um efetivo mínimo de 2 mil policiais militares.

Em maio, a Secretaria de Segurança Pública definiu uma estratégia específica para combater a ação de quadrilhas que aterrorizam a região da Penha. Chamada de Operação Abutre, seu modus operandi foi formar um cinturão de segurança para atacar os bandidos, que dominam os complexos do Alemão e da Penha. Sempre a partir das 17h, entre 80 e 100 agentes vão se dividem em sete pontos fixos, considerados críticos, para diminuir os índices de assaltos e assassinatos na região. A previsão é que a ação policial dure, pelo menos, até agosto deste ano.

O Parque Shanghai e seus frequentadores agradecem.

Vontade de manter uma tradição familiar

A continuidade que Nelson Waller dá ao trabalho de seu pai, iniciado na década de 1930, pode não ser mantida. Sem querer pressionar seu filho, o dono do parque Sahnghai, aos 52 anos, diz que gostaria de passar o bastão para o herdeiro, mas está apreensivo.

O segredo do sucesso do Shanghai é a continuação. Não sei se meu filho está inclinado a assumir um negócio montado, mas gostaria muito que isso acontecesse disse ele sobre o filho, de 18 anos, que passou boa parte da infância brincando dentro do parque da família.