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Mercadão de Madureira faz 50 anos com 80 mil convidados por dia

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Thiago Jansen, Jornal do Brasil

RIO - Na próxima sexta-feira, o Mercadão de Madureira completa meio século de existência como uma das principais referências comerciais do subúrbio do Rio de Janeiro, um importante pólo de convergência social da cidade e parte essencial da memória e do desenvolvimento da Zona Norte carioca.

Desde que foi oficialmente inaugurado, pelo presidente Juscelino Kubitschek, em 1959, o lugar deixou de ser apenas um fornecedor de produtos hortigranjeiros para diversificar-se, expandindo seu número de lojas e sua variedade de produtos: hoje, em seus 9 mil metros quadrados e mais de 400 lojas, o Mercadão oferece aos seus visitantes adegas, lojas de doces, brinquedos, artesanato, artigos religiosos, papelaria, peixaria, açougue, fantasias, decoração, hortifruti, ervas medicinais e serviços como correio, banco e loteria esportiva. Além disso, cede espaço à prefeitura do Rio para que sejam realizados trabalhos de conscientização social, como campanhas de doação de sangue e educação sexual.

Para dar conta da organização e dos 80 mil consumidores que passam por ali diariamante, são necessários 180 funcionários, 30 deles dedicados à administração do condomínio. Alguns, inclusive, trabalham voluntariamente.

É o caso de Horácio de Carvalho Afonso, 50 anos, dono de uma papelaria no Mercadão e que ainda auxilia na administração e no marketing, sem nenhuma remuneração a mais por isso.

Meu pai começou a trabalhar no Mercadão logo que ele foi inaugurado, e eu cresci ajudando-o em sua loja. Hoje, sete lojas daqui são administradas por seus filhos. Minha vida é aqui dentro, onde estão minha fonte de renda, meus amigos e minha família afirma Horácio, que conheceu sua esposa no Mercadão, em 1986. Também ajudo voluntariamente na administração do condomínio. É uma maneira de cuidar desse lugar e ajudar a perpetuá-lo para os meus filhos.

Célia Regina de Liz da Costa é outra que fez sua vida dentro do Mercadão. Moradora de Madureira, ela começou a trabalhar ali em 1962, com o marido. Hoje, aos 79 anos, conta com o auxílio da filha e da cunhada para vender suas ervas medicinais.

Adoro trabalhar nesse ambiente. Quando o Mercadão pegou fogo, quase entrei em depressão. Meu médico ligava todo dia para minha casa, preocupado comigo conta Célia.

Depois do incêndio de 2000, quando muitos pensaram que seria o fim do Mercadão de Madureira, o local passou por uma grande reforma de modernização, ganhando mais espaço entre seus corredores, escadas rolantes e um sistema de ar condicionado. Foram mais trunfos para quem já oferecia preços baixos e ganhou conforto e segurança.

Para Antônio Rodrigues do Tanque Júnior, o Tuninho, síndico do Mercadão desde 2003 e filho de um dos fundadores do centro comercial, a maior dificuldade em administrar um pólo como o Mercadão não é o seu tamanho, mas a tarefa de conciliar todos os diferentes interesses nele envolvidos.

Aqui, o que mais pesa para a administração é o grande número de lojas. Como muitos são proprietários, em qualquer decisão é preciso sempre tentar conciliar os interesses da maioria, o que nem sempre é fácil afirma.

De acordo com Tuninho, o próximo passo para manter a relevância comercial do Mercadão é uma parceria com o Madureira Esporte Clube, localizado nos fundos do mercado e um dos times mais tradicionais dos subúrbios cariocas.

Atualmente, procuramos parceiros interessados em juntar o espaço do clube com o do mercado. A idéia é construir um estádio no andar superior do clube e, em seus andares inferiores, instalar novas lojas e um estacionamento para o Mercadão conta.

História mais bonita que a de Robson Crusoe

As comemorações dos 50 anos do Mercadão de Madureira prevêem o lançamento de uma exposição itinerante, um livro e um documentário.

O Mercadão é um centro de polarização para Madureira, com uma grande importância cultural e histórica para a região próxima a ele. Falar em Mercadão é falar em Madureira e numa região que abastece o Rio de Janeiro há décadas. Resgatar a história de um lugar como este é resgatar a história de um subúrbio que é pouco conhecida e documentada comenta o escritor e pesquisador Ronaldo Luiz Martins, responsável pelo livro Caminhos do comércio, que será lançado nesta segunda-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil, e conta a origem do Mercadão com ilustrações e fotografias.

Para José Carlos Joaquim, coordenador do projeto de comemoração dos 50 anos do Mercadão, a data é importante para além de seu valor histórico.

Na verdade, o projeto também é uma grande iniciativa de valorização do subúrbio carioca e de seus moradores. Por isso a exposição sobre a história do Mercadão será itinerante e passará por escolas e outros locais da região, como forma de levantar a autoestima do suburbano pelo resgate da importância do local onde vivem.

Os trabalhos de planejamento para a comemoração dos 50 anos do Mercadão começaram há um ano e envolveram pelo menos 30 pessoas. Para a criação da exposição, do livro e do documentário, dirigido pelo cineasta Rafael Mazza, foram realizadas extensas pesquisas em cima de arquivos existentes e entrevistas com mais de 40 pessoas, entre elas figuras ilustres da história da região, como as sambistas Dona Ivone Lara e Tia Surica.

Lembrando Carlos Drummond de Andrade, e eu não sabia que minha estória era mais bonita do que a de Robson Crusoé afirma José Carlos, resumindo o resultado do projeto.