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Restaurante Popular do Maracanã vai fechar as portas

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Camilla Lopes, JB Online

RIO DE JANEIRO - Com mais de 1.500 refeições servidas diariamente, em dois turnos (café da manhã e almoço), o Restaurante Popular instalado no Maracanã vai fechar as portas em dezembro e corre o risco de encerrar as atividades definitivamente. Até o fim da semana, a secretária estadual de Assistência Social, Benedita da Silva, deve ser reunir com o governador Sérgio Cabral para decidir o futuro do lugar. O fechamento da unidade será necessário em consequência das obras no Maracanã para a Copa de 2014.

Atualmente, segundo dados fornecidos pela Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, responsável pelo programa, 1 milhão de pessoas são alimentadas diariamente nas 14 unidades de comida a R$ 1 espalhadas pelo estado do Rio. Se não for decidido um novo espaço para receber o serviço voltado a pessoas de baixa renda, aposentados e moradores de rua, a capital passará a ter sete unidades do programa.

Já está certo que a unidade do Maracanã será desativada, por causa das obras. Resta saber se conseguiremos outro espaço para instalar o restaurante, nada foi discutido até agora. E, até dezembro, não teremos tempo de construir um espaço similar na região. Trabalhamos em busca de uma solução explica Sérgio Pereira, subsecretário de integração dos

programas sociais do governo. De acordo com Sérgio, porém, o encontro com o governador ainda não foi marcado.

A notícia pegou de surpresa os usuários do lugar, como o motoboy Sidney Cunha, 28, que almoça diariamente na unidade.

Vim de Sergipe para buscar melhores condições de vida no Rio. Almoço aqui diariamente, adianta muito a minha vida lamenta o rapaz, preocupado com os rumores sobre o fechamento do lugar.

Comida elogiada

Para manter as 14 unidades do Restaurante Popular no Rio, o governo gasta R$ 3, 8 milhões. A venda das refeições corresponde a uma arrecadação de R$ 900 mil. Lançado na gestão do ex-governador Anthony Garotinho, o projeto rendeu polêmicas e ganhou a fama de populista. Quase oito anos depois, recebe a aprovação de quem se alimenta no lugar. O Jornal do Brasil visitou duas unidades principais do projeto, Central do Brasil e Maracanã, e constatou que entre os usuários há o consenso de que a comida servida é de qualidade.

Eu morava na comunidade do Rio da Prata, em Bangu, mas tive de sair de lá depois que minha filha foi assassinada após se envolver com drogas. Desde então, moro no Centro e me alimento aqui diariamente. A comida é boa e já fiz muitos amigos. O governo tem que manter os restaurantes abertos, ajuda a muita gente. Até arrumei namorada aqui conta o aposentado Djacy dos Reis, de 73 anos.

Unidades fortalecem relações pessoais

Um aspecto social dos restaurantes populares é a grande presença de idosos nos espaços. Como muitos moram sozinhos, aproveitam as horas da refeição para fazer amigos. Uma pesquisa da Secretaria Estadual de Assistência Social estuda o perfil social das unidades

Cada restaurante tem sua especificidade. Em Bangu, 21% dos frequentadores são de idosos. Eles chegam para a fila do café da manhã, antes das 6 horas, almoçam às 11 horas e as 15 horas entram na fila de novo para outra refeição que eles chamam de janta explica Sérgio Pereira, subsecretário de integração dos programas sociais do estado.

O subsecretário concluiu esta semana uma pesquisa sobre o perfil dos usuários do restaurante a um real e confirma que a unidade da Central ainda é um problema.

Nós sabemos que naquela área há muitos moradores de rua e dependentes químicos. Após nossa pesquisa, vamos mudar o conceito do restaurante popular, ele passará a ser o restaurante cidadão explica Sérgio Pereira.

A secretaria quer aproveitar os restaurantes para implantar uma série de serviços públicos em horários alternativos às refeições.

Universo paralelo

O restaurante da Central do Brasil, aos fundos da principal estação de trem do Rio, é um universo paralelo à cidade e, esquecido pelas autoridades. Entre os frequantadores do restaurante público da região, é visível o alto índice de alcoolismo entre os frequentadores. Muitos moram na rua e são viciados em crack.

Em frente à área onde a comida é servida. camelôs que vendem doses de bebidas a preços que variam de R$ 0,50 a R$ 1,00. A sujeira está por toda a parte. Na calçada em frente ao restaurante, as pessoas dormem mesmo sob o calor escaldante. São mulheres e homens de todas as idades e também bebês que, sem terem para onde ir, aguardam a próxima refeição no lugar.