João Pequeno, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Duas clínicas de aborto que funcionavam em Botafogo foram fechadas na manhã quinta-feira pela Delegacia de Homicídios (DH). Os policiais prenderam em flagrante os dois médicos que atendiam e levaram 10 funcionários para depor, além de apreender um triturador, em que seriam eliminados fetos abortados e no qual se tentará encontrar traços de DNA.
Um dos médicos presos, Bruno Gomes da Silva, de 78 anos, já respondeu a diversos processos por aborto e seu filho, Bruno Gomes da Silva Filho, trabalhava com ele, na administração da primeira clínica fechada, na Rua Paulo Barreto, segundo o delegado Jader Amaral, titular da DH. O outro médico, Walter Cardoso, 58, atendia na outra clínica fechada, na Rua Dona Mariana. Cada médico pode pegar de um a quatro de prisão.
Uma jovem de 21 anos, que havia acabado de abortar em uma das clínicas, foi levada para o Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, mas também responderá criminalmente, sujeita a pena de um a três anos de prisão.
Caso seja constatada cumplicidade de funcionários o que não ocorreu até o fechamento desta edição eles poderão responder por formação de quadrilha.
Os policiais receberam denúncias de moradores e durante dois meses investigaram as clínicas, uma das quais da Rua Paulo Barreto já havia sido fechada anteriormente, em fevereiro deste ano.
De acordo com Jader Amaral, o triturador foi encontrado na sala onde eram feitos os abortos na Paula Barreto e a eliminação dos fetos como prova pode ter ajudado Bruno Gomes da Silva a não ser condenado em seus processos.
Recolhemos o triturador para ter uma prova material mais forte na hora em que o processo chegar ao juiz. Investigamos o histórico desse médico e sabemos que ele foi preso umas 10 vezes em flagrante por aborto, mas nunca condenado. Por isso, tomamos o cuidado de apreender o triturador que ainda pode ter DNA dos fetos explicou.
O material será analisado pelo Laboratório Forense da Polícia Técnica e pode ser ser repassado ao Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj).
É uma forma de ajudarmos o conselho disse o delegado.
Impunidade no CFM
O Cremerj informou que aguarda a comunicação da polícia sobre a participação de médicos nas clínicas de aborto para tomar as medidas cabíveis, que vão de advertência a cassação que precisa ser referendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Na década de 1970, Bruno Gomes da Silva chegou a ter a cassação recomendada pelo Cremerj, mas o Conselho Federal de Medicina (CFM) reduziu a pena para suspensão por 30 dias.
A segunda clínica fechada, na Dona Mariana, tinha até portas blindadas e uma passagem secreta, para fugas. Segundo a polícia, cada aborto custava cerca de R$ 1 mil.