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Quem é Rodrigo Bethlem, o xerife do Rio

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João Paulo Aquino, Jornal do Brasil

RIO - A terça-feira amanhecia com um caminhão da Comlurb virado no Túnel Rebouças e o secretário municipal de Ordem Pública, Rodrigo Bethlem, acordava com a missão de se virar para colocar a cidade nos trilhos. O trânsito caótico fazia o Rio parar e o secretário prosseguia para mais uma tarefa do choque de ordem.

Dessa vez o alvo foi a Barra, uma casa construída à margem do Canal de Marapendi. Eram 7h30, as primeiras paredes da casa já estavam no chão e Bethlem punha-se de pé. O secretário, que acorda às 7h, nesse dia se atrasou um pouco, mas chegou a tempo de presenciar a queda dos últimos alicerces.

Acho que encheram a casa de dinamite e ninguém me avisou, foi tão rápido brincou o xerife da cidade.

Consciente de que o trabalho seria árduo, Bethlem ainda percorreu o canal em uma barca para mostrar aos jornalistas outras mansões construídas em áreas irregulares.

Após o término da ação, o repórter vai de carona no carro oficial. Primeira parada, uma loja de conveniência de um posto de gasolina: um pão de queijo e um refrigerante abastecia o secretário mais elétrico do prefeito Eduardo Paes. Mesmo em conversa informal, a palavra ordem foi a mais citada, os vidros escurecidos do carro não eram capazes de deter o olhar clínico que apontava irregularidades pelas ruas por onde o carro passava.

Alô, sim, estou enviando a fala revelava modernidade e praticidade do síndico carioca ao operar seu aparelho Blackberry.

Os telefonemas não paravam no percurso da Barra à prefeitura, Guarda Municipal, subsecretários, mulher e filha ligavam.

O aparelho transformou-se em meu escritório portátil. Aqui tenho contato com Eduardo Paes, Sérgio Cabral e meus assessores, além de ter muitos arquivos.

O secretário contabiliza em média 300 mensagens trocadas por dia.

Via Linha Amarela, chega-se ao gabinete às 11h30, uma pilha de processos aguardava ordem, ou melhor, assinatura. Quem chega pela primeira vez à sala, decorada espartanamente, pensa estar diante de um surfista, troféus e uma camiseta decoram a sala.

Como dizem mesmo? Sou um tremendo maroleiro, não surfo nada, apenas apoiei alguns eventos revela, ainda assim orgulhoso.

O secretário toca uma campainha, Val, a secretária, aparece e ele ainda pergunta quem telefonou durante sua ausência.

Se pudesse acompanharia todas as operações, seria um fiscal de rua, mas o trabalho burocrático também é necessário conta Bethlem, que lê os processos e despacha um a um.

Entre as denúncias, um morador reclama de uma vitrola do vizinho, o som alto atrapalha o sono durante a noite.

As denúncias recebidas por nós são diferentes de uma denúncia de crime, porque a nossa gera um incômodo diário e tem autenticidade. Nós viramos também uma central para resolver os problemas da cidade, recebemos reclamação até de buraco na rua e falta de coleta de lixo exemplifica o secretário.

Uma entrevista ao vivo para um telejornal foi cancelada e o xerife teve de ser paciente. Ele cumpriu sua agenda e seguiu para um médico gastrenterologista, temendo que o exame de endoscopia fosse necessário.

Ultimamente estou com um mal-estar no estômago, mas tomara que não seja nada grave torcia.

Casado com a ex-deputada federal, Vanessa Felippe, atual vice-presidente da Loterj, o maior orgulho do secretário é a família. Apesar de os pombinhos terem oficializado a união só no ano passado, já tinham dois filhos: Jorge, 17 anos, e Vitória, 7 anos.

Conheci a Vanessa no meu aniversário, ela estava acompanhada e eu também, mas depois de algum tempo a gente se encontrou de novo e demos certo.

Como pai, o xerife se mostra grande educador e diz que bagunça só no quarto dos filhos, nas áreas comuns do lar o choque de ordem prevalece.

Apesar de o primeiro encontro com a esposa ter sido no aniversário dele, o 15 de fevereiro não traz boas recordações.

Sempre caiu no carnaval, então ninguém ia. Um ano, minha mãe alugou um salão e fez uma festa à fantasia, só tinha eu de Batman, nenhum amigo meu foi lamenta o economista de 38 anos.

Filho da atriz Maria Zilda, começou a carreira política aos 22 anos, como subprefeito da Lagoa na gestão Cesar Maia. Ele era amigo da filha do ex-prefeito e nessa época teve o primeiro contato com Paes. Foi subprefeito do Méier e da Barra e em 2000 se elegeu vereador, foi subsecretário de Governo do estado para a capital, à frente das iniciativas de reordenação batizadas como Ipabacana, Copabacana e Barrabacana que se tornaram o embrião da Secretaria de Ordem Pública. Para assumir o cargo, licenciou-se do mandato de deputado federal.

O ano de 2004 foi muito difícil para mim, perdi meu pai num acidente de carro e depois fui derrotado na eleição para vereador.

Proprietário de uma academia no Recreio, ele se diz não ser vaidoso. Os cabelos brancos começam a aparecer, mas ele sabe que a tendência é só aumentar.