ASSINE
search button

Retrospectiva - Manifestações de junho agitaram todo o país

Protestos nas ruas abrangeram os mais variados temas

Compartilhar

O aumento da passagem do transporte público desencadeou a onda de protestos no Brasil, em junho. A repressão policial às manifestações chamou a atenção da imprensa e incentivou ainda mais a adesão popular às mobilizações. Os movimentos sociais pautaram as passeatas, levantando temas como corrupção política, má qualidade dos serviços públicos, gastos públicos com os grandes eventos esportivos e outros assuntos específicos das classes. 

Especialistas avaliaram que as mobilizações tiveram apoio de mais de 80% dos brasileiros e seu impacto foi comparado ao episódio do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, no ano de 1992. 

A repercussão internacional levou o governo brasileiro a adotar medidas para atender às reivindicações. O Congresso votou a favor de a corrupção ser tratada como crime hediondo, arquivou a PEC 37 e proibiu as votações secretas. Governos estaduais voltaram a praticar os preços antigos das passagens. Nas ruas, crescia o número de pessoas nas passeatas e, simultaneamente, nos veículos de comunicação repercutiam no mundo os movimentos na terra das Copas do Mundo e das Confederações. Os atos no Brasil foram comparados aos protestos Primavera Árabe, em países árabes, Los Indignados, na Espanha e o Occupy Wall St, nos Estados Unidos. 

O aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi anunciado no dia 25 de março. Em Goiânia, o reajuste nas tarifas foi de R$ 0,30. No dia 28 de maio, ônibus foram destruídos em uma das praças principais da cidade e 24 estudantes foram detidos por vandalismo. Depois disso, a Justiça determinou a redução das passagens.

Em São Paulo, os protestos começaram em 2 de junho, em resposta aos reajustes nos preços das passagens dos ônibus, metrô e trens, de R$ 3,00 para R$ 3,20. No Rio de Janeiro, o reajuste do serviço foi de R$ 0,20. Em 10 de junho, as ruas da cidade se transformaram num campo de batalha, protagonizando cenas de vandalismo, truculência policial e destruição do patrimônio. Pontos de ônibus, lojas, placas de sinalização foram quebrados por manifestantes radicais, que ainda atearam fogo em lixeiras e veículos. Pelo menos 34 pessoas foram detidas. Três dias depois, simpatizantes do Movimento Passe Livre (MPL) ocuparam uma das principais avenidas do Centro, a Presidente Vargas, bloqueando as pistas.  

No dia 17 de junho, o Rio foi palco de uma grande passeata que reuniu mais de 100 mil pessoas que protestaram contra os gastos para a Copa do Mundo, das Confederações, a corrupção e, principalmente, o aumento das tarifas de transporte público. O protesto foi quase todo pacífico, marcado visualmente pelas rosas que os participantes vestidos de branco carregavam. No final do ato, um grupo infiltrado de manifestantes radicais promoveu um festival de pancadaria. O Palácio Tiradentes, sede da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), foi invadido e depredado, além de dois veículos incendiados e muitas agressões aos PMs. Era o cartão de visita dos chamados Black blocs no cenário das manifestações no estado. 

As mobilizações foram organizadas através das redes sociais, tendo como precursores os membros do Movimento Passe Livre (MPL), com o objetivo de conter os aumentos das passagens. O termo "vandalismo" ganhou as páginas e as imagens dos veículos de comunicação a partir dos manifestos do dia seis de junho, quando começaram os registros violentos durante os atos, resultando em manifestantes e policiais feridos. No dia 13 de junho, mais de 10 mil pessoas protestaram em Fortaleza contra as políticas de segurança pública e o aumento da criminalidade no Ceará. No mesmo dia, na capital paulista, o confronto entre polícia e manifestantes deixou vários feridos, inclusive jornalistas. Cerca de 400 pessoas foram detidas para averiguação e por estar portando vinagre. A opinião pública considerou a ação policial truculenta e a comparou com "uma ditadura militar".

A abertura da Copa das Confederações, no dia 15 de junho, mudou o perfil das manifestações, passando os gastos públicos com o megaevento esportivo para o centro das discussões. Mais de 300 mil brasileiros tomaram as ruas de 12 capitais no dia 17 de junho, num ato pacífico e que terminou com muito quebra-quebra em algumas capitais, inclusive Rio de Janeiro e São Paulo. Em 20 de junho, um ato público no Rio reivindicou contra as PECs 37 e 33, a chamada cura gay, o ato médico e, principalmente, contra os altos gastos com a Copa das Confederações FIFA de 2013 e com a Copa do Mundo FIFA de 2014. Neste dia mais de 1,5 milhão de pessoas ocuparam as ruas em 120 cidades. 

Na partida de abertura do torneio, no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, 24 manifestantes foram detidos por participação em ato em frente ao estádio onde o Brasil jogava contra o Japão. No Rio, o primeiro jogo na Copa das Confederações, em 16 de junho, foi marcado por pancadaria nas proximidades do Estádio do Maracanã. Todo o período da Copa no Brasil foi marcado por manifestações nos estados. Na semifinal da Copa, realizada no Mineirão,  a tropa da PM agiu de forma violenta contra os manifestantes e um rapaz caiu do Viaduto José de Alencar e morreu no local. 

Anistia Internacional critica repressão a protestos no Rio e em São Paulo  

A Anistia Internacional, organização que representa mais de 3 milhões de ativistas que atuam em proteção dos direitos humanos, se manifestou quanto os atos e pediu as autoridades uma solução pacífica para os protestos contra o aumento das passagens do transporte público no Rio de Janeiro e em São Paulo. A organização comentou as ações de repressão aos protestos e o discurso das autoridades, que sinalizavam uma "radicalização da repressão e a prisão de jornalistas e manifestantes, em alguns casos enquadrados no crime de formação de quadrilha". Em nota, a Anistia disse que: "O transporte público acessível é de fundamental importância para que a população possa exercer seu direito de ir e vir, tão importante quanto os demais direitos como educação, saúde, moradia, de expressão". 

Presidente faz pronunciamento sobre manifestações 

A presidente Dilma Rousseff fez um pronunciamento no dia 21 de junho sobre as manifestações no Brasil. Em cadeia nacional de rádio e televisão, Dilma disse estar atenta às reivindicações feitas pela população que foi às ruas durante os protestos em diversas cidades brasileiras e destacou que o pedido de mudança é legítimo, mas condenou os atos de vandalismo e violência. 

"Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo, de propor e exigir mudanças, de lutar por mais qualidade de vida, de defender com paixão suas ideias e propostas, mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira", disse a presidente.

Sérgio Cabral dá entrevista "debochada" sobre os manifestos

O governador do Rio, Sérgio Cabral, concedeu uma entrevista a uma emissora de TV no dia 18 de junho, para afirmar que o seu governo estava aberto às negociações com os manifestantes. Ele encerrou a entrevista exclamando "Viva a democracia", em tom de ironia. Porém, cinco dias antes da entrevista, Cabral considerou que os atos públicos tinham "ar político" e que não era espontâneo da população. Na ocasião, o governador disse que os presos durante o tulmuto na noite de 10 de junho, eram "jovens que não estavam ali para defender interesses públicos, mas sim para gerar um clima de confusão e de baderna". "A população sabe perceber isso", ressaltou Cabral. Na entrevista, Sérgio Cabral mudou o seu discurso e disse que "as manifestações mostram uma juventude desejosa de participar, de estar presente, de questionar, de sugerir e isso é muito bonito".

Ainda em 18 de junho, começou a circular na internet uma convocação para uma nova manifestação que seria realizada no dia 24 de junho, com concentração e ato na frente da casa do governador Sérgio Cabral. Mais de cinco mil pessoas confirmaram presença no evento do Facebook. O texto dizia: "Se nossos 'governantes' não ouvem nossos apelos nas ruas, gritaremos em suas Janelas!".