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Eleições não garantem uma renovação no panorama político brasileiro

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A revolta causada pelos escândalos de corrupção cerca de incertezas as eleições presidenciais brasileiras, mas os analistas descartam que essa indignação servirá para renovar o Congresso, uma das instituições mais desacreditadas do país.

A corrupção (com 21%) lidera a lista dos graves problemas apontados pelos brasileiros, seguida pela saúde (19%), segundo uma pesquisa Datafolha de abril.

A questão da corrupção ganhou corpo desde que a Operação Lava Jato revelou, a partir de 2014, um enorme esquema de propinas enraizado no Estado, envolvendo a Petrobras e quase todos os partidos políticos.

"Tem uma vontade da população de renovar, de fato, tem um clamor contra a corrupção", assinala à AFP Sylvio Costa, diretor da consultora Congresso em Foco.

O tsunami político-judicial envolve todas as instâncias de poder. O presidente Michel Temer (MDB) e parte de seu círculo próximo também são denunciados por corrupção; e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) está preso desde abril pagando uma pena de 12 anos e um mês de prisão também por corrupção.

Lula, 72 anos, apesar de preso, é favorito nas pesquisas, com quase um terço das intenções de voto, mas sua candidatura pode ser invalidada por causa de sua situação legal.

Sem Lula nas pesquisas, quem aparece em primeiro lugar é o deputado da direita radical Jair Bolsonaro (PSL), com 15%, seguido pela ambientalista Marina Silva (13%), de acordo com uma pesquisa do Ibope do final de junho.

Os dois destacam que não estão envolvidos em escândalo de corrupção e se apresentam como alternativa ao PT e ao PSDB, que dominaram a vida política nos últimos 24 anos.

"Hoje, sem nenhuma dúvida, Bolsonaro é o candidato que mais se beneficia da crise política e do descontentamento da população com os políticos atuais. (...) Mas a Marina Silva e o Ciro Gomes, outros candidatos anti-sistema, também se beneficiam dessa situação", explica Costa.

- App para detectar corruptos -

Sete em cada dez brasileiros desconfiam dos partidos políticos e a mesma porcentagem do Congresso Nacional, segundo o DataFolha.

De acordo com o site Congresso em Foco, um terço dos 513 deputados e mais da metade dos 81 senadores estão sob "investigação criminal ou ações penais".

Os procuradores da Lava Jato pediram que a população vote em políticos com "ficha limpa", em sintonia com o sentimento popular sobre a urgência de mudar um sistema endemicamente baseado na compra de apoio e troca de favores para poder governar.

Para ajudar o eleitor, a empresa Reclame Aqui criou um aplicativo chamado "Detector de Corruptos", que, com uma foto, dá acesso à ficha judicial os candidatos, detalhando os processos em que está envolvido.

Mesmo assim, "o cenário mais provável é que não haja uma grande renovação legislativa", afirma Costa.

O diretor executivo da organização Transparência Brasil, Manoel Galdino, também não acredita que as revelações da Lava Jato mudem o mapa político "não porque os eleitores não queiram, não estejam preocupados, mas porque os partidos tradicionais vão controlar bastante os recursos da campanha... (...) e os novos candidatos não vão conseguir atingir os eleitores e comunicar suas plataformas", assinala Galdino.

- Mais votos nulos e em braço -

Em um país onde a eleição é obrigatória e os votos em branco ou nulos não podem ser contabilizados, os especialistas evitam prognosticar um aumento elevado desta tendência.

Sem Lula, o número de votos em branco ou nulos sobe de 22% a 33%, segundo o Ibope, que não menciona a eventual porcentagem de abstenções.

Em 2014, os votos nulos, em branco e as abstenções somaram 29%.

Na eleição para governador do Estado de Tocantins em junho, os votos em branco e nulos e as abstenções chegaram a 49%.

Gadino descarta um cenário semelhante nas presidenciais "porque, ao final das contas, as pessoas sabem que o próximo presidente vai impactar a vida delas e é melhor votarem em alguém ao menos pior do que em ninguém".

"Mas são vários os indicadores de que talvez não seja possível uma importante renovação, pelo menos não por ora, em 2018", conclui Costa.