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Roberto Requião: 'Temer destruiu o país'

Rebelde do MDB, senador diz que pode derrotar Henrique Meirelles na convenção do partido

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O senador Roberto Requião (PR) não poupa palavras quando é para defender os princípios do MDB, ao qual orgulha-se de pertencer desde o início da carreira, há 30 anos. Para resgatar a doutrina do “Esperança e Mudança” - documento lançado pelo MDB em 1982 a partir das teses nacional desenvolvimentistas – faz oposição sistemática ao presidente que pertence ao seu partido. “Temer descaracterizou o PMDB e destruiu o Brasil”, diz Requião nesta entrevista ao JORNAL DO BRASIL. Ele confirmou que vai enfrentar o ex-ministro Henrique Meirelles na convenção da legenda que escolherá o candidatos à sucessão de Temer. E prevê que terá a maioria dos delegados a seu favor.

Como o senhor vê a maneira como Temer está agindo nas negociações dos protestos das transportadoras?

O Temer não está agindo. Ele continua privilegiando a política da Petrobras, que se submete aos interesses das petroleiras estrangeiras. A Petrobras reduziu o seu refino e está importando petróleo 3, 8 vezes mais caro dos Estados Unidos. O Temer colocou no conselho da estatal representantes das petroleiras estrangeiras. Com isso, ela deixa de ser uma concorrente e passa a ser uma subordinada.

Como o senhor acha que deveria ser feita a precificação do combustível no Brasil? 

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, já falou que se o governo intervir, entregará o cargo. A política que ele faz não é a política do Brasil. É a política dos estrangeiros e dele mesmo. É o liberalismo econômico levado ao máximo.

Como Senador, o que o senhor propõe como alternativa?

Eu entrei com uma ação popular restabelecendo o preço ao momento anterior à essa política suicida e criando também uma comissão de especialistas para estabelecer uma política de preços. A Petrobras é dos brasileiros. O Estado é o principal acionista. Ela tem que se submeter a uma política pública vinculada ao emprego, ao desenvolvimento econômico e ao Brasil. O Parente está fazendo uma política totalmente liberal.

Mas essa política não é só do Pedro Parente. É uma decisão de governo...

É a política do Meirelles, do Parente. É a política do PSDB.

O governo do MDB está executando a política do PSDB?

O governo Temer acabou. Se houvesse governo, esse Parente estaria na rua. Se houvesse governo, ele não teria sido nomeado. A bandeira do PMDB é o documento Esperança e Mudança, nacionalista e desenvolvimentista.

Não é o Encontro com o Futuro?

Não. Este Encontro com o Futuro é a volta à barbárie do liberalismo econômico que destruiu a Europa.

Mas o MDB colocou o nome de um candidato liberal. 

O PMDB não colocou nada. O Temer e a cúpula do partido fizeram uma proposta de lançar o Meirelles. Isso tem que ir para a convenção. Foi uma simulação. Quando o Padilha (Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil) colocou a proposta de reforma da CLT para consulta no partido, houve 97% de “não”. E eles implementaram a loucura de qualquer jeito.

Isso se repete agora, com Meirelles sendo o candidato do governo e da cúpula do partido?

Estamos indo para a convenção partidária no momento em que o país está sofrendo resultados incríveis do fracasso dessa política econômica, que está causando desemprego, aumentando preço de tudo, derrubando previdência pública.

O senador Renan Calheiros falou que o governo Temer foi o grande responsável pela fuga recente de emedebistas. O senhor concorda que o governo Temer descaracterizou o MDB? 

O governo Temer descaracterizou o MDB e destruiu o Brasil. Acabou com a imagem pública da política. Graças à Lava Jato e ao Meirelles, ela foi desfeita. Perante a opinião pública, o PMDB é que é responsável por esse governo. O mais terrível é que quando lançaram o Meirelles, a estratégia era fazer o Temer desistir de ser candidato. Com a popularidade que tem hoje, ele seria um peso extremamente negativo para qualquer candidatura que se associasse a ele. O Temer estava com 1%, e eles puseram o Meirelles com 0,5% nas pesquisas. Parece um paradoxo, mas não é. Eles têm certeza de que o Meirelles desistiria. Ele vai gastar uma grana para se promover e não vai conseguir. É evidente que ele vai se manter com índices ridículos, porque é o responsável pela destruição do país. Então, voltará a questão do PMDB não ter candidato, como sempre. O PMDB só teve candidato em duas ocasiões, com o Ulysses e com o Quércia. Não havendo candidato à presidência, eles desviam o fundo eleitoral para suas campanhas.

Existe ainda a possibilidade de Meirelles financiar a própria campanha, não é?

Ele acenou com isso: se eu for candidato, financio a minha campanha e o fundo ficará para vocês.

Mas o senhor vai lançar o seu nome para enfrentar o Meirelles na convenção?

Já lancei o meu nome. O meu lançamento é uma pesquisa. Eu quero saber como a base me recebe. Enviei uma consulta aos 420 convencionais. Das 200 respostas que recebi, 80% são favoráveis ao meu nome, contra 20% do Meirelles. A minha proposta é a do velho MDB, de esperança e mudança.

O senhor tem dito que apoia o presidente Lula. Acha que ele deve manter a candidatura?

Sempre fiz oposição aos governos Lula e Dilma. Mas o Lula aprendeu muito. E ele fez uma política séria de inclusão dos excluídos. O Temer não considera os excluídos. Trata como se fossem o lixo humano.  Essa acusação contra o Lula pelo apartamento de Guarujá é absolutamente ridícula. Ele deve manter a candidatura.