O jornalista Alberto Dines deixou, em seu último artigo publicado na imprensa, o registro definitivo de sua íntima e profunda relação com o JORNAL DO BRASIL.
Dines, que marcou o jornalismo brasileiro nos anos 1960 e 1970, promovendo profundas e históricas reformulações no JB, brindou a volta do impresso, no dia 25 de fevereiro deste ano, com um artigo que já dizia tudo no título: "Sempre JB".
O texto foi enviado à redação no dia 31 de janeiro, quando Alberto Dines já enfrentava problemas de saúde.
Leia abaixo:
Sempre JB
Alberto Dines
Café, jornal, cigarro. Cigarro, não mais, mas jornal sempre foi fundamental. O Jornal do Brasil ia além, era vício. Bibliotecas eram paraísos para Jorge Luís Borges; o JB era alimento para os cariocas e leitores de outros estados que corriam de banca em banca atrás de um exemplar.
Correio da Manhã, revistas Senhor e Realidade, O Pasquim e tantos tabloides de literatura atormentaram os nostálgicos, mas não voltaram.
O JB voltou. Para fazer barulho bom e peso na leveza das redes. Pedra firme em água fluida. Um adversário temido volta às bancas.
Caixa de ressonância, guia seguro, imprensa séria, comprometida, consistente, inovadora, tudo combina com o JB. Repórter bom que briga com a matéria e com o editor. O redator que acredita: a matéria mais importante do jornal é a dele, ou a dela – como uma vez eu disse para a então estreante colunista Clarice Lispector.
Os livros não interessavam aos tablets, e os apressados preconizavam: vão acabar. Não acabaram. As vendas de livros até aumentaram 6% no ano passado, no Brasil. E se as vendas dos jornais caem, há sempre um Warren Buffett que acredita e compra, compra, compra jornais.
O jornalismo está impregnado do espírito sequencial, de passagem, de prolongamento e continuidade. Nosso ofício, que começa e se esgota a cada fluxo, a cada novo dia, é o exercício da permanência, da duração. Por melhor ou pior que tenha sido a edição anterior, o que vale é a seguinte. E depois dela, a outra. É um nunca acabar, ou eterno renascer.
Um grande jornal faz-se com a consciência do tempo e a capacidade de atrair o leitor, todos os dias, para a maravilhosa aventura de saber um pouco mais.
Há um caminho aí que é o de fazer pensar. Oferecer alternativas de pensamento e marcar presença, fazer história. Pensar grande.
Mario Sergio Conti, em coluna recente, lembrou de “Memórias de um Antissemita”, o romance de Gregor von Rezzori: “O sangue jorra como antes. A única dignidade que se pode manter no nosso tempo é a dignidade de estar entre as vítimas”.
No caso do JB, é brigar pelas vítimas.
Não é fácil, mas é possível. Agora mais do que nunca.