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Lava Jato interessa mais ao brasileiro do que Copa do Mundo

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O país do futebol parece que se rendeu a preocupações políticas e voltou sua atenção para o combate à corrupção. Essa foi a conclusão do levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas, que, após entrevistar 2.170 eleitores em todo o país, mostra que 77,7% se dizem mais interessados no noticiário sobre a Lava Jato do que no torneio que reunirá as maiores seleções de futebol do mundo, na Rússia, a partir de 14 de junho – 10% nem querem saber de qualquer um desses assuntos; e 1,7% não opinou (a margem de erro é 2,0% para os resultados gerais). 

A pesquisa foi realizada entre os dias 16 e 19 de maio, o que, para o cientista político e professor da PUC-RJ, Ricardo Ismael, pode explicar tal reação. “O Brasil atravessa um momento delicado, do ponto de vista social. Não deslanchou na economia, o desemprego continua alto, assim como a sensação de insegurança. São muitas questões difíceis de se esquecer. Mas a Copa do Mundo acaba sempre funcionando como uma válvula de escape. Então, esse cenário pode mudar se o Brasil embalar no campeonato”, afirma. 

Já o professor Gilmar Mascarenhas, do Instituto de Geografia da Uerj, especialista em geografia dos esportes, há um desinteresse crescente por essa competição: “Existe uma tendência, há duas décadas, de um declínio dessa vinculação da Copa como algo grandioso, que represente a nação e mobilize sentimentos patriotas. Essa é uma tendência que também acontece em vários outros países”, explica. 

Mascarenhas ainda faz uma provocação: “Quem são nossos ídolos? O Neymar, que é o número um desta seleção, é uma pessoa que não goza de empatia alguma e, inclusive, tem acusações sérias de sonegação de imposto. Fica mais difícil o vínculo emocional intenso. As pessoas assistem muito mais porque é um grande espetáculo, e a tecnologia de transmissão atingiu um pata mar muito alto”, avalia o professor da Uerj, que afirma, ainda, que essa pesquisa mostra a crise política profunda que o país vive e a desesperança generalizada. “O país vive um pesadelo nos últimos três anos, e fica difícil, para essas pessoas, dizer que a Copa é mais importante do que a Lava Jato”, diz. 

Os especialistas também destacam um ponto curioso da pesquisa, o fato de que são os grupos de faixa etária mais jovem e mais velha que demonstram maior interesse pela Copa. “Entre os jovens sempre vai acontecer uma motivação grande. Eles estão muito interessados nas ‘fan fests’, por exemplo, que são uma modalidade de evento público que surgiu na Alemanha, em 2006, e os mobiliza. Os jovens vão para as ruas, é quase um carnaval fora de época. Para a juventude, são dias que não têm aula, é muita festa”, lembra Gilmar Marcarenhas. 

Para Ricardo Ismael, uma explicação possível para esses números está no fato de que os mais jovens nunca viram o Brasil ser campeão, enquanto os grupos de faixas etárias intermediárias estão no mercado de trabalho ou desempregados e se preocupam muito mais com questões políticas do que com um torneio de futebol. 

“Uma coisa é certa: o brasileiro não só aprova como está muito interessado em acompanhar os desdobramentos da Lava Jato. E engana-se quem acha que, na época da Copa do Mundo, o noticiário sobre isso vai passar ileso. O eleitor está muito atento aos fatos”, conclui o professor da PUC-RJ.