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Perfil de vegetarianos ultrapassa esteriótipos

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O perfil do vegetariano ultrapassou os estereótipos das últimas décadas e hoje atrai de adeptos da alimentação natural até quem não dispensa junk food. Inédita, nova pesquisa Ibope Inteligência aponta que 14% dos brasileiros com mais de 16 anos - cerca de 22 milhões de pessoas - concordam parcial (6%) ou totalmente (8%) com a afirmação “sou vegetariano”. Na mesma tendência, estudo da Kantar Ibope Media aponta que, de 2012 até o ano passado, cresceu de 8% para 12% o total de adultos (de 18 a 75 anos) que se declaram vegetarianos nas regiões Sul e Sudeste do País e nas áreas metropolitanas de Salvador, Recife, Fortaleza e Brasília. “Deixou de ser uma escolha restrita a um grupo. Hoje toda família tem um vegetariano, um vegano”, diz Cynthia Schuck, coordenadora da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). 

Para ela, mesmo que nem todos sigam o vegetarianismo de forma estrita, o fato de alguém se reconhecer como tal é positivo. “São pessoas que se identificam e estão no caminho. Para o mercado, já é um público que conta.” A designer Domitila Carolino, de 38 anos, é um exemplo de adepta recente desse estilo de alimentação. A mudança começou há seis anos, por recomendação médica, quando seus exames apontaram excesso de ferro. Alguns meses depois, porém, ela voltou a comer carne, que era muito consumida pelo marido. “Respeito quem come. Cada um no seu tempo”, diz. Em 2015, ela retomou o vegetarianismo. “Não queria mais colocar dentro de mim agressão, de morte, de sofrimento.” Para a professora de História Thaís Carneiro, de 27 anos, a mudança chegou anos depois de o pai aderir ao vegetarianismo. 

“Eu era muito firme que não queria deixar (de comer carne)”, lembra. A virada veio aos 14 anos, durante uma viagem, quando a professora visitou pessoas que criavam animais. Na ocasião, chegou a sair de um recinto para não presenciar o abate de uma galinha, que depois encontrou morta na cozinha. “Passei a associar mais os animais ao que comia, por mais que já soubesse.” Na mesma época, ela leu um livro espírita que considerava o consumo de carne um vício. “Essas questões foram mexendo comigo”, conta. A mudança foi difícil, especialmente na escola. “Elogiavam, mas depois diziam que não conseguiam e começavam a falar de carne, a descrever, isso me deixava triste. Chorava, achava as pessoas insensíveis.” Quando foi vegana, ela enfrentou dificuldade para manter a dieta, especialmente fora do País, o que relata no projeto Mulheres Viajantes. “Aqui, a gente teve um crescimento considerável no mercado”, compara. 

Professora do Departamento de Sociologia e Política da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Juliana Abonizio aponta que a religião foi o motivo predominante, décadas atrás, para alguém se tornar adepto do vegetarianismo. Hoje, segundo ela, cresce a motivação ambiental, por saúde ou por não concordar com a exploração animal. “Tem gente que começa pela saúde e depois vira militante.”