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Candidato à Presidência pelo Podemos, Álvado Dias afirma que Planalto corrompe os políticos

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Pré-candidato à Presidência pelo Podemos, o ex-tucano Álvaro Dias diz que um dos principais pontos de sua plataforma é pôr fim ao sistema político de corrupção que vem marcando o país. Para ele, tudo tem origem na relação viciada entre o Congresso e o Palácio do Planalto. Garante que sua relação com o Legislativo será republicana. Em seu recém-criado partido, promete emplacar as reformas estruturais necessárias para que o Brasil cresça economicamente, sem a mancha da corrupção que invadiu a Esplanada. Diz que começará pela reforma política, mesmo que não haja renovação expressiva no Congresso.

Não há como iniciar a entrevista sem tratar da prisão do presidente Lula. Como o senhor vê essa prisão e o momento da história por que passamos? 

Claro que é lastimável um presidente da República ser conduzido à prisão. Mas não há dúvida de que é um avanço. O estado de direito prevaleceu. Não prender o Lula seria um retrocesso que comprometeria a operação Lava Jato e que passaria a sensação de impunidade no momento em que o país caminha para a inauguração de uma nova Justiça no país. Essa prisão comprova que não são os homens que governam as leis, mas as leis que governam os homens.

O senhor apresentou uma PEC para alterar o dispositivo que trata da decisão em segunda instância. Se há a necessidade de uma PEC, não seria inconstitucional a votação do STF que autorizou a prisão de Lula?

 Não. Existem diferentes interpretações daquele artigo. A PEC seria para eliminar qualquer dúvida. No ano passado, o Supremo firmou o entendimento de que é possível a execução provisória da condenação em segunda instância. A legitimação constitucional, com a inclusão desse dispositivo, que deixa clara a possibilidade de prisão em segunda instância e alteração necessária no código de processo penal, seria exatamente para tirar dúvidas de interpretação como se viu durante os debates no STF. Se a PEC que propus tivesse sido aprovada, o Supremo não sofreria esse desgaste que sofreu nos últimos dias porque esse assunto não estaria em debate.

Como o senhor encara agora o novo cenário na corrida eleitoral após a prisão do Lula? 

A Operação Lava-Jato já alterou o cenário eleitoral do país e isso é visível. Hoje, dois critérios são colocados como exigência da população: o passado a limpo e a experiência administrativa. Isso nos leva a concluir que haverá reflexão durante o debate na campanha eleitoral sobre o perfil de cada postulante. Eu não creio que seja preponderante agora discutir o que significa a ausência do ex-presidente.

Ele não se considera ausente da corrida. Vai manter a candidatura até setembro. Organismos internacionais dizem que se trata de prisão política.... 

Os organismos internacionais estão desatualizados e distantes da nossa realidade. Não conhecem em profundidade a história recente do Brasil, onde se instalou o sofisticado e complexo sistema de corrupção. Eu acompanho muito de perto no Congresso nos últimos 15 anos, participando de CPIs, fazendo todas as denúncias possíveis e imagináveis durante todos esses anos. Nós sabemos que as provas são cabais e definitivas. Não há organismo internacional que tenha o direito de colocar sobre suspeição a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça brasileira, que reuniram as provas materiais e testemunhais suficientes para a condenação.

Em relação à sua posição na corrida eleitoral, as pesquisas têm colocado entre 4% e 7%. 

O que mede o potencial de voto de um candidato neste momento é a sua rejeição. A minha rejeição é a mais baixa de todos os candidatos. É uma rejeição para o momento de desgaste político insignificante. As pesquisas mostram que tenho 13% de rejeição no plano nacional e onde eu sou mais conhecido, 11%. Há um espaço bom para crescimento da candidatura e eu aposto na proposta de refundação da República, interrompendo esse sistema político. 

Qual seria o seu modelo? 

Nós começaremos pela reforma do Estado e pela reforma política, a partir do enxugamento das estruturas tanto política quanto administrativa, eliminando estruturas paralelas, sobreposições de ações, reduzindo o tamanho do Estado, tornando o Estado mais qualificado tecnicamente e mais competente administrativamente. No plano da política, seria uma reforma que reduziria o número de partidos representados no Congresso. Vamos acabar com essa fábrica de siglas que é alimentada pelo fundo partidário. Vamos reduzir também no Parlamento o número de senadores, com um terço a menos. Na Câmara, serão 20% a menos de deputados federais e, proporcionalmente, nas assembleias. Nas câmaras de vereadores também. O legislativo será mais enxuto, mais econômico e mais qualificado.

Um estudo do Diap mostra que 90% dos atuais deputados buscam a reeleição. O senhor espera ter apoio do atual Congresso para fazer essas mudanças?  

Sim, porque, na verdade, o Congresso dança a música que toca o Executivo. Se há  corrupção no Congresso, é porque do outro lado da rua está instalado o corruptor-mor, que é o presidente da República. Se nós estabelecermos uma relação republicana entre os poderes, poderemos inverter esse processo. Ao invés de instalar um balcão de negócios para comprar votos e cooptar partidos políticos, apresentaremos as propostas de mudança aspiradas pela sociedade e comunicando competência e credibilidade. 

Quando o senhor fala em corruptor-mor, refere-se também ao presidente Michel Temer? 

Os últimos três presidentes foram verdadeiros arautos desse sistema que se espalhou pelas estruturas do poder. Eles se transformaram em corruptores, sim. O pessoal da Lava Jato vem revelando isso com muita clareza.

Como vê o seu antigo partido, o PSDB, e a candidatura Geraldo Alckmin? 

O PSDB vai carregar um peso monumental nas costas, consequência da sua participação nesse processo. O PSDB assimilou por inteiro o sistema que eu condeno. A incompatibilidade que existe entre nós foi exatamente pela assimilação do sistema pelo partido. Da minha parte, é a contestação dessa prática que eu considero nociva aos interesses do país. O PSDB se tornou mais um arauto desse sistema instalado em Brasília, clonado e transplantado para estados e municípios. Praticamente todos esses partidos que governam assimilaram por inteiro o sistema da promiscuidade. Essa razão da nossa discordância.

E o Podemos, como qualifica? 

O conceito adotado pelo Podemos é de se fazer a leitura das prioridades da sociedade. A sociedade, dinâmica e em movimento, alterna as prioridades em função das circunstâncias. Nesse contexto, é preciso recolher valores a direita e valores da esquerda. Na direita existem valores que assimilo, como “menos estado e mais sociedade”, “a melhor forma de combater a pobreza é valorizar quem trabalha, quem produz”. A esquerda tem valores, como “melhor redistribuição de renda” e “redução das desigualdades sociais”.

Que avaliação o senhor faz da janela partidária, no qual o Podemos angariou muitos deputados? 

Ainda não tenho esse balanço, mas é significativo o crescimento em relação das circunstâncias e das desigualdades, uma vez que nós não temos o fundo eleitoral generoso como outros partidos diante desse mercado persa que se estabeleceu.

É uma crítica ao fundo eleitoral? 

O fundo eleitoral é uma decepção. Consagra a podridão na política, prioriza a existência de partidos de aluguel e confirma a tese existente de que não temos partidos no país temos siglas para registro de candidaturas.