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ENTREVISTA / CIRO GOMES: 'Cometo meus deslizes'

Pré-candidato do PDT sonha com Josué Alencar para vice e critica prisão de Lula 

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Aos 60 anos de idade (“16 deles vividos no Rio”, frisa), o pré-candidato do PDT à Presidência, o ex-ministro Ciro Gomes se sente mais preparado do que nunca para disputar o cargo ao qual se candidatou duas vezes: em 1998 pelo PPS, e em 2002, já pelo PDT. Na primeira entrevista do JORNAL DO BRASIL com pré-candidatos à presidência, Ciro se diz mais atento àquele que dizem ser um dos seus pontos mais fracos, a fama de “morrer pela boca”. “De vez em quando eu cometo um deslize”, admite. Ele diz que a prisão de Lula não seria “nem remotamente boa para o País, embora a Lei seja para todos”. E promete que, se eleito, vai “assumir a tarefa histórica de tirar o Rio de Janeiro dessa situação em que se encontra”. 

Por mais de uma ocasião o senhor se viu em dificuldades por ter escorregado em frases que tiveram repercussão muito negativa. Como lida com a fama de falar demais? 

Eu sou a mesma pessoa. Nunca acreditei que meu problema fosse esse. O problema é que quem entra numa disputa sem ser dono de empresa, sem ser dono de televisão, só tem uma ferramenta: a palavra. Aí dizem o Ciro deveria ser mais moderado, deveria falar menos assim, assado. Tudo bem, eu tenho ouvido isso, ouço com muita humildade. Tenho 38 anos de vida publica, comandei a economia do pais como ministro da Fazenda, da integração nacional, nunca respondi a um inquérito de corrupção, nem uma vezinha na vida, nem sequer pra ser absolvido.  Nada mais é do que minha obrigação, eu sei disso. Mas os tempos estão assim como estão. Então falaram, o bicho é bocão. Qual é o meu defeito?  Que eu sou bocão?  OK, mas por outro lado não sou ladrão, não sou incompetente. De vez em quando cometo um deslize de algo que vou prestar muita atenção para não cometer.

O que o senhor acha da possibilidade da prisão do ex-presidente Lula? 

O Lula pra mim não é um mito distante, uma figura política complexa, que alguns amam de paixão outros  odeiam. O Lula é um velho amigo de 35 anos e ver o que acontece com ele me constrange, me dói o coração.  O que eu quero dizer é que independente da questão política, os ódios e paixões que isso desperte eu não acho nem remotamente bom para o país, embora a lei seja para todos, a prisão dele. O resto é política. E na política você tem hoje uma certa conciliação entre improváveis arquinimigos que nesse tema se juntam. para produzir uma intriga. Estou falando de uma certa direita do país que tem verdadeiro pavor da gente se unir e eu sair de um certo isolamento organizacional e ter estrutura para pôr em prática algumas concepções que eu tenho.  E essa elite prefere o capiroto do que eu. E uma certa burocracia do PT entra nesssa, porque precisa desesperadamente passar pra sociedade brasileira que é Lula ou nada. na crença de que o Lula amanhã, vitimizado, aponte um deles,  que seja capaz de replicar esse imenso patrimônio merecidamente ainda mantido pelo Lula.

O senhor então quer dizer que é a própria direção do PT que insufla esse afastamento? Uma espécie de fogo amigo?

O PT tem o direto de fazer isso. Não vejo problema nenhum.  O que substitui a intriga é a história. Faz simplesmente 16 anos sem descontinuar nenhum,  que eu ajudo o Lula.  Unilateralmente, sem nunca pedir nada. O  Lula vai lá fazer campanha contra mim no Ceará e eu, porque penso no Brasil, há 16 anos ajudo o Lula. Isso é um fato que ninguém tira, é história. Os bolsominions me agridem violentamente por isso.

Que política de alianças o senhor pretende implementar em sua campanha?

Eu quero tentar muito explicitamente um acordo entre os interesses da classe trabalhadora a quem eu sirvo. Meu compromisso moral,  sem exclusão de ninguém é com os pobres, é com a pobreza. Já recebi em nome do povo do Ceará, no Plenário das Nações Unidas, o Prêmio Mundial de Combate à Mortalidade Infantil. Isso pertence ao povo do Ceará,  eu apenas ajudei modestamente a construir isso. Outros me antecederam nesse trabalho como o Tasso Jereissati  que eu sempre lembro com muito orgulho. Isso guia o sentido de continuar nessa maluquice que virou a política brasileira. Então quero associar os interesses dos trabalhadores ao do setor produtivo. Nosso inimigo é a especulação. Que drena toda a energia do mundo do trabalho para meia dúzia de pessoas.

OK, mas quais partidos fariam parte dessa aliança?

Aí você tem um problema de classificação, que depende do momento. Porque aliança comigo não será pelos meus belos olhos, nem pela grana que eu tenho ou a disparada preferência nas pesquisas (rs). Mas pela possibilidade de um projeto que já está se revelando  muito interessante para alguns setores relevantes da opinião pública. E esse projeto precisa de suporte social  e politico.  E ainda que haja uma malversação muito grande desses adjetivos, que se corromperam também, posso dizer que o arco de forças que eu quero suportar é uma aliança de centro-esquerda.

Fala-se que o senhor pratica um discurso muito sofisticado, de difícil entendimento pelo brasileiro médio. Como encontrar um caminho do meio entre esses dois pólos? 

Estou circulando muito. Praticametne não durmo dois dias no mesmo lugar. Já dei entrevistas para jornais no Japão, na Alemanha.  Há uma curiosidade internacional, por que estou tocando nos pontos corretos, sensiveis, que o mundo que não é vulnerável à lavagem cerebral  da propaganda está percebendo. O mundo quer inovação, está constrangido por falta de alternativas.  E é justamente sobre isso que eu venho falando há décadas no Brasil e as pessoas não queriam ouvir. Agora estão sentindo a necessidade de prestar atenção.

O senhor já tem um nome ou um perfil de quem seria o vice ideal em sua chapa? 

Eu gostaria de recrutar um homem da produção.  Um empresário que fosse capaz de aperfeiçoar, no simbólico do desenho da chapa, essa aliança entre capital  e o trabalho. Sim, isso lembra muito a aliança do Lula com o José Alencar e o Josué Alencar é um grande nome, filho deste grande brasileiro que foi o José Alencar.

Como o senhor está vendo a situação do Rio de Janeiro? 

Por agora, o que posso dizer é que estou no centro dos debates do Rio. Ainda não sei exatamente como, porque as tratativas estão nos bastidores e eu, mesmo estando nesse bastidor, não estou autorizado pelas outras forças a falar.  Mas estamos muito preocupados em construir uma saída para o Rio e eu quero uma interlocução com uma elite nova que o Rio pode produzir. Não estou falando em novas pessoas, mas em um novo projeto. E eu quero assumir a tarefa histórica de tirar o Rio de Janeiro dessa situação em que se encontra.