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'The Guardian': O desmatamento da Amazônia e a crise hídrica de São Paulo

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São Paulo pode ter que enfrentar uma escassez de água ainda mais rígida que a vista recentemente se o desmatamento da floresta amazônica prosseguir, alerta Jerson Kelman, presidente da Sabesp, em reportagem do The Guardian assinada por Jonathan WattsKelman conta que sentiu o dever de falar sobre o assunto como cidadão líder da companhia que viu em primeira mão o quão próximo que a metrópole chegou de um colapso. 

"Nós não podemos transformar a Amazônia em pasto", disse ele em entrevista. "A Amazônia cria um movimento de água. Se a floresta for derrubada, estaremos em uma encrenca."

Tal debate, evitado pela bancada ruralista do país, ressalta o jornal, pode reacender o alerta sobre a ligação entre "a maior floresta do mundo, as mudanças climáticas e a possível recorrência da seca de 2014-2015".

O Guardian frisa que o prefeito de São Paulo, João Doria, em uma entrevista à publicação, reconheceu a importância da ligação entre a Amazônia e o fornecimento de água da cidade. “Nós precisamos preservar a Amazônia para preservar o ciclo de chuvas nas regiões Centro e Sudeste do Brasil”, disse o prefeito tucano. O governo Doria, entretanto, aponta o The Guardian, tem feito pouco para transformar palavras em ação.

O jornal relembra a situação de São Paulo quando passou pela crise hídrica. Em janeiro de 2015, o volume de água da Cantareira, principal sistema de represas de São Paulo, caiu para 5%. Em Itu, brigas, roubos e saques de caminhões-pipa ocorreram em meio a escassez de água. Em muitas comunidades, a água só foi liberada por algumas horas a cada quatro dias. O "luxuoso" restaurante Bassano chegou a servir os clientes com pratos e talheres de plástico, porque o fornecimento de água era insuficiente para as máquinas lava-louças. 

"Com eleições acontecendo no ano seguinte, os governos da cidade e estado de São Paulo se recusaram a declarar situação de emergência, mas o Guardian Cities ouviu de muitas fontes que as autoridades estavam mais preocupadas do que admitiram publicamente na época", reporta o jornal inglês. 

Para Kelman, ficaram quatro lições: boa engenharia de fornecimento, gerenciamento de demanda sensata através de mecanismos de preços, transparência para que o público esteja do lado do governo economizando água, e aceitar que dados antigos não eram mais confiáveis como resultado das mudanças climáticas e mudança do uso da terra.

Ele alerta que a perda da Amazônia aumenta os riscos climáticos para São Paulo porque a floresta ajuda a circular a água dos trópicos para baixo, no processo de evapotranspiração. "Agora eu entro em um campo minado", diz ele. 

Ele tinha calculado que a chance de uma seca como a de 2014-2015 era de 0.4%, ou uma vez a cada 250 anos. "Mas a natureza nos mostrou que nós não podemos confiar em estatísticas estacionárias em série como fizemos no passado. Nós temos que nos preparar para o desconhecido."

"Se a Amazônia desaparecer, seria razoável presumir que os volumes de chuva diminuiriam em São Paulo assim como o fornecimento de umidade em direção ao Sudeste poderia cair", diz Camila Ramos, do Climatempo, agência privada de previsão do tempo.

>> The Amazon effect: how deforestation is starving São Paulo of water