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Vídeos de Funaro abrem nova crise entre Maia e Temer

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A semana começa agitada e incerta depois que o website da Câmara dos Deputados publicou vídeos do depoimento do doleiro Lúcio Funaro à Procuradoria-Geral da República (PGR), em agosto deste ano. Entre os citados, estão o presidente Michel Temer e o ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso em Curitiba. 

As revelações geram especulações sobre a possibilidade de um afastamento do governo pela Câmara. O governo, por sua vez, avalia que a Câmara não tinha a obrigação de publicar os vídeos em sua página. Nesta semana, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa vai analisar o relatório da segunda denúncia contra Temer, por obstrução da Justiça e organização criminosa no caso J&F. 

No sábado (14), a defesa de Temer sustentou que a divulgação do material faz parte de um "vazamento criminoso com intenção de insistir na criação de grave crise política no país".

Maia, então, chamou o advogado de "incompetente", e respondeu que o STF não pediu sigilo sobre o conteúdo das delações do doleiro Lúcio Funaro. "Como é possível depreender da leitura das decisões que encaminharam a denúncia e as cópias dos inquéritos à Câmara dos Deputados, não há determinação de restrição de acesso a qualquer parte da documentação", disse nota da presidência da Câmara, divulgada no domingo. 

"A única ressalva incide sobre a Petição n. 7.099, procedimento que tramita sobre segredo de justiça. Essa informação foi confirmada pelo próprio Presidente da Câmara dos Deputados em reunião com o Relator, Ministro Edson Fachin, e com a Ministra Cármen Lúcia, no Supremo Tribunal Federal", completa a nota. 

A assessoria do relator, ministro Edson Fachin, do STF, disse que o conteúdo da delação não poderia ter sido divulgado pelo site da Câmara e que o único documento liberado do sigilo foi a inicial da denúncia.

Em seguida, a defesa de Temer soltou uma outra nota, mantendo as críticas, mas tentou amenizar a crise com a Câmara. "Jamais pretendi imputar ao Presidente da Câmara dos Deputados a prática de ilegalidade, muito menos crime, e hoje constatei que o ofício encaminhado a S. Ex.ª pela Presidente do STF, com cópia da denúncia e dos anexos que a acompanham, indicou serem sigilosos apenas autos de um dos anexos, sem se referir aos depoimentos do delator, que também deveriam ser tratados como sigilosos, segundo o entendimento do Ministro Fachin, em consonância com o que tem decidido o Supremo Tribunal", disse o advogado Eduardo Carnelós na nota.

Após a segunda nota de Carnelós, Maia informou que pediu uma audiência com a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, para que o tribunal detalhasse o que deveria ficar sob sigilo e o que poderia ser tornado público, o que teria sido feito. Maia fez duras críticas ao fato do advogado de Temer ter chamado a divulgação dos vídeos de criminosa, sem antes confirmar se tais informações estão ou não efetivamente sob sigilo.

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De qualquer forma, o advogado de Temer, apesar de manter as críticas, admitiu que, quando fez as afirmações, não sabia que as gravações tinham sido tornadas públicas e que estavam no site da Câmara dos Deputados. Carnelós diz que o ofício enviado a Maia pela ministra Cármen Lúcia, com cópia e anexos da denúncia contra Temer, indicava como sigiloso apenas um dos anexos, sem mencionar os depoimentos de Funaro, como havia determinado o ministro Edson Fachin.

"Jamais pretendi imputar ao Presidente da Câmara dos Deputados a prática de ilegalidade, muito menos crime, e hoje constatei que o ofício encaminhado a S. Ex.ª pela Presidente do STF, com cópia da denúncia e dos anexos que a acompanham, indicou serem sigilosos apenas autos de um dos anexos, sem se referir aos depoimentos do delator, que também deveriam ser tratados como sigilosos, segundo o entendimento do Ministro Fachin, em consonância com o que tem decidido o Supremo Tribunal", escreveu a defesa de Temer.

Para Carnelós, a divulgação dos vídeos, que são públicos, "causa prejuízos" a Temer. Ele criticou o fato de jornalistas darem publicidade a declarações de um "confesso criminoso para influenciar os membros da Câmara", e reforçou que é "muito bem fundamentado" o parecer do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), que recomendou o rejeição da denúncia contra Temer.

Ainda no domingo, por meio de assessoria, Cármen Lúcia disse que apenas oficiou Maia e que o relator do inquérito, Edson Fachin, é a autoridade máxima e única no processo. De acordo com o gabinete de Fachin, a delação de Funaro não teve o sigilo retirado em nenhum momento. 

O secretário-geral da Mesa Diretora, Wagner Soares, subordinado a Maia, determinou que os vídeos fossem divulgados no site da Câmara. O material foi publicado ainda no dia 29 de setembro, uma semana depois de Maia se queixar do assédio de peemedebistas a parlamentares do PSB, que estavam sendo visados pelo DEM. Os vídeos só ganharam repercussão, contudo, após reportagem da Folha, nesta sexta-feira (13).