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“Palocci é calculista, frio e simulador”, critica Lula

Ex-presidente, em depoimento a Moro, criticou MPF e PF devido a algumas operações 

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O interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terminou por volta da 16h20 desta quarta-feira (13). Ele falou durante pouco mais de duas horas ao juiz Sergio Moro. Este foi o segundo interrogatório de Lula feito por Moro. O ex-presidente fez críticas ao ex-ministro Antônio Palocci, ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal.

>> Veja todos vídeos do depoimento de Lula a Sergio Moro

Lula disse, no depoimento, que o ex-ministro Antonio Palocci de "calculista, frio e simulador". Ele negou que tenha feito qualquer tipo de acerto ilícito com a empreiteira Odebrecht. "Se ele fosse um objeto, seria um simulador", afirmou.

De acordo com ele, Palocci nem sequer era responsável por assuntos do Instituto. Lula contou que só se encontrava com o ex-ministro, depois de sua saída do governo, "de oito em oito meses".

Durante a audiência, o Ministério Público Federal ainda apresentou uma pauta de reunião de Emílio Odebrecht, patriarca da empreiteira, com Lula, que foi entregue à investigação. A reunião teria ocorrido no dia 30 de dezembro de 2010, no Palácio do Planalto. No documento, o primeiro item da pauta é a "'Passagem' do histórico de parceria". Isso seria uma referência à troca de governo, de Lula para Dilma, e ao acerto ilícito feito com o intermédio de Palocci.

Na mesma agenda, ainda são listados, debaixo do título "Com ele", os itens: "Estádio Corinthians, Obras Sítio, 1a Palestra Angola e Instituto". Lula afirmou que o documento é falso e "uma mentira" e fez severas críticas à atuação da Polícia Federal e do Ministério Público, pois vê com "desconfiança" determinadas operações.

Além da insatisfação com Palocci, Lula e Moro também não demonstraram muita simpatia um para com o outro. O juiz mostrou-se exigente, tendo, inclusive, advertido Lula para que não usasse o tratamento de “querida” ao direcionar-se à procuradora Isabel Groba Vieira, que acompanhava o interrogatório. Era para que fosse usado o tratamento protocolar.

Imparcialidade

Outro momento de confronto entre Lula e Moro foi quando o ex-presidente perguntou se poderia chegar em casa e sentar-se com oito netos e dizer que estava sendo julgado por um juiz imparcial, “pois não foi o que aconteceu” no outro processo.

Moro o interrompeu e afirmou que não trataria do outro caso. Sobre esse fato, ele deveria se defender no tribunal, disse o magistrado, afirmando que o considerou culpado no referido processo.

O caso

O novo depoimento referiu-se à acusação de que o ex-presidente recebeu também propina da Odebrecht. O empresário Marcelo Odebrecht diz ter usado a conta de propina que a empresa mantinha com o PT para adquirir um imóvel destinado a abrigar a sede do Instituto Lula. Além disso, teria repassado valor para pagar uma cobertura vizinha à de Lula. Quando era presidente, Lula ocupou o apartamento vizinho. Ele alegou que o fez por motivos de segurança. Quando deixou o cargo, em 2011, manteve o uso do apartamento, que foi adquirido por Glaucos Costamarques, primo do pecuartista José Carlos Bumlai.

O depoimento de Marcelo Odebrecht, que firmou acordo de delação com a Procuradoria Geral da República (PGR), foi confirmado pelo ex-ministro Antonio Palocci.

Palocci confirmou que o imóvel era destinado ao Instituto Lula e que o ex-presidente desistiu de aceitar o prédio depois de uma reunião em que ele questionou o negócio. Teriam participado do encontro Bumlai e o advogado Roberto Teixeira, que intermediou o negócio.

Em sua defesa, Lula contou que era a falecida esposa, Marisa Letícia, a responsável por gerir o pagamento do aluguel do apartamento 121, vizinho ao que é de sua propriedade, em São Bernardo do Campo (SP), e gerir seu imposto de renda.

A recepção

 Antes de entrar no prédio, Lula caminhou por entre manifestantes e militantes de movimentos sociais. A Secretaria de Segurança do Paraná montou um esquema de segurança na expectativa de que ao menos 5 mil manifestantes fossem a Curitiba em cerca de 50 ônibus para apoiar o ex-presidente.

O bloqueio das ruas na área em torno da sede da Justiça Federal começou por volta das 9h30 a uma distância de duas quadras do edifício onde ocorre a audiência. Cerca de mil policiais militares, além de membros de outros órgãos, foram destacados para trabalhar na segurança no local.