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'Bloomberg': Tornozeleiras eletrônicas são novo 'must-have' do Brasil

Reportagem destaca cadeias lotas e excesso de prisões domiciliares por corrupção

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Esqueça o Fitbits e o Google Glass. As tornozeleiras eletrônicas são a nova febre no Brasil, diz o artigo publicado nesta sexta-feira (21) pela Bloomberg.

O noticiário explica que cerca de 32 mil criminosos e suspeitos disputam um dos poucos modelos, com muitos outros na lista de espera. 

Bloomberg avalia que a demanda é tão intensa por estes rastreadores, porque dezenas de presos que as tivessem poderiam estar em liberdade condicional ou cumprir penas reduzidas, enquanto os poucos sortudos considerados de baixa periculosidade estão fora da prisão, tendo apenas o monitoramento e sua palavra como garantias de não cometer nenhum crime que possa faze-los retornar as cárcere.

Parte do boom da tornozeleira é impulsionado pela gigantesca investigação de corrupção conhecida como Lava Jato, que condenou executivos, burocratas e operadores políticos como o ex-corretor de energia do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu, que acabou sendo enviado para casa em maio com uma tornozeleira para cumprir sua sentença em casa. Ele foi um dos sortudos, aponta Bloomberg. Um ex-assessor do presidente Michel Temer, que tinha sido apanhado transportando uma mala cheia de dinheiro e depois foi transferido para prisão domiciliar, teve que ser conduzido cerca de 210 quilômetros equipado com uma tornozeleira. Outro ministro de Temer, preso por tráfico de influências, provocou ira pública quando foi enviado para casa sem nenhuma tornozeleira.

Monitorar criminosos fora da prisão é uma atividade relativamente nova no Brasil, observa Bloomberg. Tais dispositivos foram utilizados há mais de 25 anos para expulsar infratores menores de penitenciárias perigosas e promover a reabilitação dos presos a curto prazo. 

A tecnologia aprimorada de rastreamento por satélite, que substituiu dispositivos de radio freqüência, e uma revisão em códigos criminais a favor de penas alternativas e a tais delações premiadas, aumentou a demanda global por monitores móveis, acrescenta.

Mas na América Latina, as tornozeleiras se tornaram um recurso crucial, já que a superlotação transformou presídios em bombas relógio, ressalta a Bloomberg. Em nenhum lugar é mais evidente a crise do sistema prisional do que no Brasil: com cerca de 622 mil prisioneiros, é a maior  população carcerária da região latino-americana e a quarta maior do mundo.

Enquanto não evoluem as políticas sobre reestruturação e pacificação nas prisões, empresas de segurança empreendedoras estão mirando neste novo nicho que atraiu investidores do Brasil e do exterior. 

Embora o impacto a longo prazo de tal tecnologia ainda esteja sendo revisado, os políticos estão convencidos de que o monitoramento eletrônico pode impedir temporariamente o crime e reduzir drasticamente o custo das prisões na sociedade, diz o texto.

Bloomberg diz que no entanto, a redução fiscal levou as autoridades locais no Brasil a reduzir os orçamentos de segurança, inclusive para prisões. A partir de março, pagamentos atrasados ??suspenderam a distribuição das tornozeleiras em pelo menos cinco estados brasileiros.

Bloomberg finaliza ironizando que talvez ao invés de tornozeleiras, para alguns bastasse o envio de sandálias havaianas com cadeados... 

> > Bloomberg

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