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Nos EUA, Janot diz que orçamento da Lava Jato está "garantidíssimo"

"Quando colocamos luz sobre a corrupção, é a melhor maneira de limpar tudo"

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O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse nesta quarta-feira (19), em palestra no Atlantic Council, em Washington, Estados Unidos, que o orçamento de 2018 para a força-tarefa da Lava Jato está "garantidíssimo", em resposta ao questionamento enviado nesta terça-feira (18) pela nova PGR, Raquel Dodge, que assume o cargo em setembro.

"Garantidíssimo. É prioridade da procuradoria na minha gestão. Se vai ser na dela, eu não sei. Agora na minha está garantido, sim", rebateu Janot, acrescentando que não viu nada de "extraordinário" no questionamento de Dodge.

Durante a palestra, Janot chamou atenção para algumas lições aprendidas com as investigações da Operação Lava Jato no Brasil. Para ele, é essencial que os Ministérios Públicos tenham autonomia nos países. Janot também falou sobre a importância das parcerias com outros órgãos de persecução penal, do uso da tecnologia da informação e da especialização em determinados crimes. Ele explicou ainda que transparência torna a investigação mais legítima.

"Quando você está investigando políticos de alto nível hierárquico, os critérios devem ser públicos porque a sociedade precisa entender o que está acontecendo. Nós investigamos fatos e, com base nisso, chegamos às pessoas. Transparência é uma maneira de garantir que as investigações serão concluídas", disse. Ele também afirmou que a população brasileira está cansada da corrupção. "A corrupção rouba da educação, da saúde, da segurança pública e de várias outras áreas. Acima de tudo, rouba a esperança e o futuro das pessoas, isso é o que temos que pensar."

Durante a palestra que abordou a experiência do Brasil no contexto de crise, corrupção e cooperação global, o procurador-geral da República também negou que a crise política seja causada pelas investigações da Lava Jato. "Nós ouvimos todo dia que o sistema de justiça brasileiro está criminalizando a política. Isso não é verdade. O que fazemos é aplicar a lei criminal, dando oportunidade para a defesa, e procurando os criminosos, independente do fato de haver agentes políticos envolvidos."

Para ele, não se trata de uma ação política, mas somente de aplicar a lei. "A lei existe para ser aplicada a todos, independentemente de sua religião, raça ou status. Isso é o que o sistema de justiça criminal no Brasil está fazendo", alertou.

Crise econômica - Segundo Rodrigo Janot, a crise econômica também não aconteceu por causa das investigações. "O que nós descobrimos é que alguns setores da economia trabalharam de forma específica para capturar um nicho do mercado e se manter nessa posição por meio de propina, sem deixar espaço para competição. Grandes lucros geravam mais fatias de mercado. Isso que afetou a economia. Nós queremos que a economia se desenvolva de uma maneira livre, em concorrência saudável, para termos eficiência econômica e tecnológica e resultados positivos".

O procurador-geral lembrou que o Ministério Público tem um compromisso com a sociedade, que espera que esse caso siga adiante. "Quando colocamos luz sobre a corrupção, é a melhor maneira de limpar tudo." Para ele, o papel da imprensa é diferente hoje na América Latina. "Nós temos menos ditadores, mais democracia e uma imprensa livre, que investiga, vai atrás e faz perguntas." Ele também lembrou da parceria com as agências do Estado brasileiro, como a Polícia Federal, Receita Federal e Controladoria-Geral da União: "Não teríamos chegado onde chegamos sem ajuda delas".

Cooperação internacional - O procurador-geral falou ainda sobre o impacto da cooperação internacional nas investigações. Para ele, economia globalizada gera crime organizado globalizado, e combater a corrupção passa a ser um problema regional. "Hoje, é impossível esconder indivíduos ou recursos da jurisdição brasileira por causa da intensa cooperação internacional", declarou. Ele citou números sobre a cooperação internacional na Operação Lava Jato: até o momento, o Ministério Público Federal enviou 158 pedidos a 37 países e recebeu 105 pedidos de 28 países.