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Com votação apenas em agosto, possível delação de Cunha preocupa Planalto

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A decisão de votar, na Câmara, o parecer sobre a denúncia contra o presidente Michel Temer somente no dia 2 de agosto, anunciada nesta quinta-feira (13) pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acende o sinal de alerta no Planalto especialmente com relação à possível delação do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Apesar de interlocutores da base aliada afirmarem que o governo não tem pressa para esta votação, a expectativa de que fatos novos piorem a situação de Temer preocupa.

Cunha teria entregado, na noite da última sexta-feira, anexos de sua proposta de delação premiada. Segundo o Valor Econômico, o material ainda estaria sendo analisado.

Na sexta-feira (14), o ex-deputado ficou calado durante depoimento à Polícia Federal no âmbito da Operação Cui Bono, que apura esquema de fraudes na Caixa Econômica Federal.

O advogado de Cunha negou que o ex-deputado estaria negociando delação premiada. Contudo, muitos condenados na Lava Jato optam pela estratégia de ficar em silêncio em depoimento à PF justamente para não atrapalhar as negociações da delação.

Além de Cunha, seu ex-sócio Lúcio Funaro também estaria dando prosseguimento ao acordo de delação premiada. As delações teriam relação com a próxima denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está preparando contra Temer, e diz respeito à obstrução de justiça por ter supostamente apoiado a compra de silêncio de Cunha por parte do empresário Joesley Batista, da JBS.

Por sua vez, em nova oitiva, feita na semana passada, Funaro afirmou que entregou pessoalmente malas de dinheiro ao ex-ministro Geddel Vieira Lima em uma sala no aeroporto de Salvador. Geddel era considerado um dos homens de confiança de Temer, e é acusado de tentar obstruir a investigação de supostas irregularidades na liberação de recursos da Caixa Econômica Federal. Sua prisão preventiva foi pedida com base em acusações do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, do empresário Joesley Batista e do diretor jurídico do grupo J&F, Francisco de Assis e Silva, feitas em depoimentos ao MPF.

>> Transferência de Funaro para a carceragem da PF reforça tese de que delação está adiantada

Perguntas a Temer

No início de julho, a Justiça Federal encaminhou a Temer as 22 perguntas feitas pela defesa de Cunha no processo sobre suspeitas de corrupção envolvendo o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS).

Nas perguntas, os advogados de Cunha perguntam se Temer teve conhecimento de vantagens indevidas para liberação de financiamento do FI-FGTS, e se participou de alguma reunião para tratar de doação de campanha das eleições de 2010, 2012 ou 2014, entre outros questionamentos. Interlocutores interpretam as perguntas como uma forma de pressionar Temer, deixando claro que Cunha tem informações importantes que poderiam comprometê-lo.

>> Eduardo Cunha pergunta a Temer sobre esquema no FGTS da Caixa

Votação na Câmara

Rodrigo Maia anunciou na noite desta quinta-feira (13) que a votação do parecer contrário ao prosseguimento da denúncia contra Temer ocorrerá no dia 2 de agosto, após o recesso parlamentar. 

De acordo com ele, a decisão foi tomada após um acordo feito com as lideranças do governo e da oposição, logo depois de ter sido aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o relatório que recomenda o arquivamento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer pelo crime de corrupção passiva.

O entendimento das lideranças, segundo Maia, é que não haveria quórum para que a votação fosse aberta nesta sexta (14) nem na próxima segunda-feira (17), quando se inicia o recesso. "Eu estava disposto a votar na segunda, mas os líderes da oposição e do governo optaram pelo dia 2 de agosto", disse.

Maia explicou ainda que, antes da votação, deverão ser dados 25 minutos para que o relator do parecer e a defesa do presidente exponham seus argumentos novamente.

>> Em nova votação, deputados da CCJ aprovam parecer favorável a Temer