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'El País': Condenação de Lula não deveria ser dia de festa para o Brasil

Artigo diz que políticos do PT são tratados com outro peso e medida pela justiça 

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Artigo de opinião de Juan Arias publicado nesta quarta-feira (12) pelo jornal espanhol El País observa que o Brasil é motivo de notícia mundial pela condenação de Lula, já que o ex-sindicalista foi o presidente mais popular e carismático da democracia. 

O autor afirma que Lula tinha conseguido que o gigante latino americano saísse de seu complexo de vira-lata para se projetar no futuro como uma peça importante do xadrez mundial e acrescenta que ele foi o presidente mais amado, quase adorado, pelo mundo dos mais pobres.

Arias diz que a notícia de sua condenação não pode ser um momento de alegria, já que chega em um momento crucial da política brasileira, com Michel Temer ás vésperas da possibilidade de ser deposto por corrupção e uma sociedade dividida e tensa, atemorizada com os 14 milhões de desempregados do país.

O texto compreende que deixando de lado as ideias políticas de cada um, o dia da condenação de Lula não deveria ser um dia de júbilo e alegria porque a notícia encerra uma infinidade de simbolismos, a queda do ídolo da esquerda brasileira e com ele a esperança da reforma profunda do Partido dos Trabalhadores (PT), que chegou a ser o mais importante da esquerda latino-americana.

Sempre se disse que o PT não existia sem Lula nem Lula sem o PT, lembra o autor. Juan afirma que de algum modo a democracia sofre e se despedaçam muitas esperanças com a a notícia desta condenação. 

Juan Arias para El País avalia que para alguns a sentença contra Lula, o primeiro presidente do país condenado por motivos criminais, significa, ao mesmo tempo, a esperança de que, por fim, neste país a justiça seja igual para todos. Poderia até ser verdade, opina, mas com uma condição: que todos os outros políticos, muitos deles acusados e réus de crimes ainda maiores, acabem, como Lula, condenados por essa mesma Justiça, algo que não parece ser o que a sociedade sente, pois a mesma diligência que o juiz Moro usou contra Lula o Supremo Tribunal Federal (STF) já deveria ter usado com dúzias de políticos de primeiro plano da vida nacional de partidos que governaram com a esquerda do PT, e que parecem ser tratados com outros pesos e medidas.

"Se a condenação infligida por Moro a Lula, à qual se poderiam seguir outras mais, quer ser vista como um triunfo da Justiça em um país onde somente iam para a prisão os pobres, os negros e as prostitutas, será necessário que a sociedade possa ver claramente, sem esperar mais, que sejam condenados os outros líderes políticos cujas denúncias, não menos graves que as de Lula, se arrastam durante anos, aparecendo como intocáveis", finaliza.

> > El País