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Oposição na CCJ quer depoimentos de Janot, José Yunes e ministros de Temer

"Resultado de votação dependerá de chantagens de Temer", diz Wadih Damous

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Enquanto o governo e a base aliada tentam acelerar a produção do parecer da denúncia contra o presidente Michel Temer, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, com o objetivo de votar o relatório em Plenário antes mesmo do recesso parlamentar, a oposição traça estratégias para retardar o processo na Casa.

Deputados da oposição estão pressionando o presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), para que ele aceite o requerimento e convoque o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para explicitar as razões que o levaram a apresentar a denúncia de corrupção passiva contra o presidente Michel Temer.

Nesta quarta-feira (5), os deputados da base aliada e da oposição tentaram fechar algumas questões em reunião na comissão, mas houve discordância do aliados do governo sobre convocações para depoimentos e o presidente da CCJ disse, então, que decidirá monocraticamente até esta quinta-feira (6) se Janot poderá ou não se manifestar na comissão.

O líder da Rede Sustentabilidade, deputado Alessandro Molon (RJ), que integra a CCJ, disse que caso a acusação não seja ouvida na comissão, entrará com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a garantia de fala.

A reunião desta quarta-feira (4) também serviu para que a base aliada deixasse clara a influência de Temer para que o relatório vá para votação ao Plenário na próxima sexta-feira (14). Molon disse que o cronograma estabelecido pelo governo é impossível de ser cumprido e que, na melhor das hipóteses, o parecer do relator Sérgio Zveiter (PMDB) só seria votado no Plenário no final de julho, após o recesso parlamentar.

"Já ficou claro que que não é possível levar a votação para plenário na sexta-feira da semana que vem, pelo acordo que se fez e do número de membros e de não-membros a poderem falar na CCJ. Portanto, é impossível que o processo esteja pronto até lá. O governo quer a todo custo restringir a quantidade de falas e não quer que acusação e testemunhas sejam ouvidas. Mas está claro que, na melhor das hipóteses, essa votação só poderá ocorrer no final de julho ou em agosto", defendeu o líder da Rede.

A estratégia de protelar a votação do parecer na CCJ e atrasar a votação da denúncia em plenário apenas depois do recesso parlamentar inclui, ainda, a convocação de ministros de Temer, como o da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do advogado José Yunes, amigo do presidente há mais de 40 anos e assessor da Presidência da República até o final do ano passado. Yunes deixou o governo após delação do ex-executivo da Odebrecht Claudio Melo Filho de que ele teria recebido um envelope com dinheiro cujo destino final seria Eliseu Padilha.

Em conversa com o Jornal do Brasil, o deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) disse que é impossível saber qual será o placar e que o governo está blefando quando diz que tem votos na CCJ para ir contra a denúncia. Segundo ele, o resultado pode depender do sucesso do "toma lá, dá cá" nas conversas de Temer com deputados da base aliada.

"[O placar] é uma incógnita, porque ele depende muito da capacidade do Planalto de fazer chantagens com a base aliada, além de oferecer tudo o que puder. O fato de muitos dos 513 deputados não declararem voto de apoio a Temer mostra que eles estão com medo [da opinião pública]. Mas isso a gente só vai saber na hora da votação", disse Damous.