Bloomberg publicou nesta quinta-feira (29) um artigo onde defende as reformas políticas e econômicas propostas pelo governo de Michel Temer, independente da estabilidade de sua posição.
O texto diz ironicamente que em um país onde dois dos últimos quatro líderes democraticamente eleitos foram expulsos em desgraça, e alguns dos funcionários públicos de maior escalão estão atualmente sob investigação, estagnar por conta de escândalos políticos é uma grande besteira.
Na segunda-feira à noite, o procurador-chefe Rodrigo Janot, acusou formalmente a Temer de corrupção, tornando-se o primeiro presidente do país a enfrentar acusações de conduta criminal, lembra a Bloomberg.
Para Bloomberg, por mais graves que pareçam, as acusações contra outro líder nacional não surpreenderam ninguém no Brasil. Após três anos consecutivos de Lava Jato, a maior investigação de corrupção da América Latina - com 144 executivos, e políticos sentenciados a mais de 1.464 anos de prisão - a visão de políticos de "colarinho branco" fazendo passeios de jatinhos e vivendo normalmente em suas mansões se tornaram tristemente rotineiras. Temer nega qualquer irregularidade e chamou as acusações de Janot de "ficções" de Janot, não está à beira da queda. Como um político da velha-guarda, ele controla uma maioria confiável no Congresso, onde pelo menos dois terços da câmara devem votar se as acusações contra ele devem ir para julgamento. Esse sistema, e talvez um pouco de excesso de fiscalização, poderia explicar por que as ruas não estão fervendo com protestos contra o governo, apesar das avaliações tão baixas de aprovação que Temer possui.
"Em vez de indiferença pública, a calma aparente poderia ser um sinal de que os brasileiros estão perplexos. Com as eleições a 16 meses de distância e grande parte da classe política desacreditada ou sob escrutínio, é difícil dizer quem pode emergir para escavar o país para a recuperação, e muito menos como faria", fala a autora.
"As pesquisas de opinião não são de grande ajuda. Os primeiros colocados são figuras que os brasileiros já conhecem, lideradas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,do único Partido dos Trabalhadores, com cerca de 30% dos votos se as eleições fossem realizadas hoje. Mas alguns de seus associados mais próximos estão na prisão ou sob investigação, e o próprio Lula está enfrentando acusações de corrupção em cinco casos. A questão por enquanto é: Quem corre mais rápido, Lula ou a lei?"
Bloomberg cita como atuais favoritos dos brasileiros Jair Bolsonaro, de extrema direita, e o publicitário de São Paulo, Joao Doria Jr., mais conhecido por apresentar a franquia "The Apprentice" de Donald Trump.
Bloomberg acredita que ao invés de um salvador, o que o Brasil poderia ter é um centrista radical: alguém com capacidade de crédito fiscal suficiente para resistir às reparações populistas rápidas e politicamente habilidoso o suficiente para evitar as tentações do capitalismo de camaradagem.
"O Brasil construiu um sistema político excepcionalmente vulnerável a grupos de pressão, que contribuem generosamente para campanhas políticas e depois exigem incentivos e contratos fiscais", disse Fernando Schuler, professor da Universidade Insper São Paulo.
"Nós apostamos em um modelo de desenvolvimento que tende a explosão". Vivemos um problema que vai demorar muito mais do que Temer.