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'The Economist': Lava Jato pode salvar Michel Temer de impeachment

Políticos de todos os partidos estão sob escrutínio e preferem que presidente permaneça

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Nunca se imaginaria que uma gravação de áudio do presidente do Brasil, Michel Temer, que surgiu em maio parecendo discutir o pagamento de dinheiro e propinas, chegaria ao ponto dos promotores zelosos do país acusarem no formalmente. Mesmo assim, a decisão de Rodrigo Janot, procurador-chefe, em 26 de junho de acusar Temer de receber suborno foi importante. 

É a primeira acusação desse tipo contra um presidente no cargo, diz o artigo publicado pela The Economist nesta quarta-feira (28).

O texto diz que Janot baseia suas acusações na fita e no testemunho de Joesley Batista, o empresário bilionário que a registrou secretamente. Isso resultou em uma operação severa em que Rodrigo Loures, ex-assessor de Temer, foi filmado recebendo 500 mil reais (159 mil dólares) do enviado de Batista, alegadamente por ter intercedido com a agência antitruste em nome de sua firma. Janot suspeita que o dinheiro, mais outros 38 milhões de reais prometidos por Batista, foi de fato destinado a Temer. O presidente protesta pela sua inocência e ressalta que seu relacionamento com o senhor Loures é tudo o que o liga ao pagamento.

Mesmo antes das acusações, o governo de Temer já era registrado como o mais impopular, com uma classificação de aprovação de apenas 7%. Em junho, ele se manteve preso ao cargo quando o tribunal eleitoral decidiu liberá-lo junto com Dilma Rousseff, sob a qual ele serviu como vice-presidente antes do seu impeachment no ano passado, de acusações de financiamento de campanhas ilícitas em 2014. Mas ele mantém apoio onde mais importa, avalia The Economist: no congresso. Para que o caso prossiga, os encargos devem ser aprovados por dois terços dos deputados na câmara. Basta ter o apoio dos congressistas para tornar seu afastamento improvável.

O noticiário afirma que os deputados parecem ter decidido que duas coisas são necessárias para ter uma chance de reeleição em 2018: a recuperação econômica e a contenção da investigação de corrupção em constante expansão, chamada de Lava Jato. Em nenhum dos pontos, a remoção de Temer os serviria bem. Na primeira, ele pode apontar para a queda da inflação e um retorno ao crescimento no primeiro trimestre do ano como sinais de que suas reformas pró-mercado estão dando frutos. As reformas trabalhistas para permitir horários de trabalho mais flexíveis e facilitar a demissão e a contratação parecem estar em progresso, apesar da rejeição de algumas propostas pelo comitê do Senado em 20 de junho.

Quanto a Lava Jato, os políticos de todos os lados estão sob escrutínio, de modo que a maioria concorda com a conveniência de enfraquecê-lo. Eles adorariam ver Temer escolher um sucessor menos duro que Janot quando seu mandato terminar em setembro. Os insatisfeitos incluem o Partido dos Trabalhadores, que consideram a substituição de Dilma de "golpe" e são contra as reformas.  The Economist lembra que a qualquer momento, o tribunal federal pode se pronunciar contra Luiz Inácio Lula da Silva, ainda o político mais popular do Brasil, que tem meia dúzia de casos pendentes contra ele por corrupção e lavagem de dinheiro.

Tudo isso significa que o Sr. Temer tem boas chances de completar os últimos 18 meses de seu mandato. Mas ele continua vulnerável. O Congresso pode procurar suavizar uma revisão impopular das pensões públicas que reduzem o orçamento, opina The Economist. 

Os milhões de brasileiros que marcharam para exigir o impeachment de Dilma Rousseff estão cansados ??de protestar. Mas outras revelações poderiam leva los de volta às ruas, finaliza.