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'The Guardian': O negócio mortal dos pilotos de risco do Brasil

País tem pior registro do mundo para profissionais que voam em áreas remotas

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Matéria publicada nesta quarta-feira (5) pelo The Guardian fala sobre o mercado de pilotos de cargas que sobrevoam áreas de risco, de difícil acesso no Brasil, movimentando grandes montantes, porém as custas de um enorme número de vidas. 

Clinger Borges do Vale fez fortuna voando para levar e trazer suprimentos para garimpeiros - mineiros de ouro ilícitos - na Amazônia, mas também perdeu três irmãos de acidentes de aviação. Perder um irmão em um acidente aéreo pode ser considerado um infortúnio; Perder dois é uma tragédia; Mas ter três irmãos mortos em acidentes de aviação em diferentes momentos mostra o quanto pode ser perigoso o trabalho de um piloto destes no oeste selvagem da Amazônia brasileira.

> > The Guardian 'We have the worst record in the world': the deadly business of Brazil's bush pilots

Clinger Borges do Vale é um sobrevivente no que poderia muito bem ser a família de vôo mais malfadada do mundo - tendo apenas se machucado 11 vezes e perdeu dois de seus passageiros em um incêndio na cabine, descreve o Guardian.

"Eu sou o piloto mais sortudo do mundo. Qualquer outra pessoa estaria morta ", diz Vale com um sorriso sombrio na cidade de Itaituba, que serve como um centro para as comunidades ilegais de mineração de ouro no fundo da floresta.

É um negócio lucrativo e arriscado, avalia o diário britânico. A mineração de ouro não regulamentada na América Latina ganha mais dinheiro de exportação do que o contrabando de drogas, mas vem com um pesado tributo ao meio ambiente e à vida humana.

Na bacia amazônica do Brasil, os mineiros ilegais - conhecidos como garimpeiros - têm sido responsáveis pelo desmatamento, ataques às aldeias indígenas e contaminação por mercúrio dos rios, diz o Guardian.

Agora aposentado, Vale - como milhares de outros pilotos de risco - voou por mais de 40 anos para pistas de pouso remotas, esburacadas e semi-escondidas em pequenos aviões transportando garimpeiros e prostitutas, enviando equipamentos e retornando com ouro, relata o noticiário.

A manutenção é rara e falta combustível. Algumas pistas estavam a pouco mais de 300 metros. Navegação - inicialmente sem GPS - foi um desafio, especialmente na época de queima, e as chuvas tropicais às vezes eram pesadas o suficiente para derrubar aviões.

A taxa de acidentes foi elevada. "Eu perdi a conta de quantos de meus amigos foram mortos em acidentes. Sem dúvida este é o lugar mais perigoso para voar ", diz Vale.

No entanto, ele e os seis irmãos se tornaram pilotos. "Em Itaituba, era isso ou se tornava um garimpeiro", lembra ele. Dada a alta taxa de homicídios entre os mineiros e as baixas perspectivas de ficar ricos, "Não era uma escolha muito boa", diz ele.

Guardian afirma que Itaituba raramente é mencionado nas dez listas dos aeroportos mais perigosos do planeta, mas passageiros e pilotos que voam para cá e de lá nas últimas décadas têm sido muitas vezes mais propensos a morrer do que em destinos mais conhecidos.

Em outros lugares, isso pode ser motivo de preocupação. Em Itaituba, é mais como um emblema de honra. As paredes da cafeteria do aeroporto estão decoradas com uma pintura de um avião pousando em cima de outro nos anos 1980, quando este reivindicou ser o aeroporto mais movimentado do Brasil. 

Para alguns, os pilotos e mineiros são aventureiros heroicos. Para outros, são criminosos ambientais movidos pela ganância, conclui o Guardian.